Reflexões Leigas sobre a Lição 6 da Escola Sabatina

Sábado 06/11/2004

 

UM ANTIGO DECRETO DE MORTE – DANIEL 6

 

 

Algumas Informações Históricas

 

O livro de Daniel está dividido em duas partes, sendo que dos capítulos 1 até 6 temos a parte histórica, e dos capítulos 7 até 12 temos a parte profética. Portanto estamos estudando o último capítulo da parte histórica.

 

Como vimos no comentário anterior, Daniel estava com cerca de 83 anos de idade quando Babilônia foi conquistada pelos Medo-Persas no dia 12 de outubro de 539 a.C.. Vamos agora tentar verificar qual seria a data mais apropriada para o que está relatado no capítulo 6.

 

Na tentativa de estabelecermos a data para os eventos do capítulo 6, é muito importante verificar algumas recentes descobertas sobre Dario, o medo. O livro “Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel” escrito por C.Mervyn Maxwell (C.P.B. 1ª edição) nas páginas 104 e 105 nos conta da descoberta de um tablete de barro conhecido como A Crônica de Nabonidus, onde o comandante militar que invadiu e conquistou Babilônia no dia daquela fatídica festa é identificado como GUBARU. A crônica também fala que Gubaru era o governador da cidade de Gutium, uma província da Média. O antigo historiador Xenofonte também fala de um governador por nome de GOBRIAS (equivalente grego de Gubaru) que conquistou Babilônia para Ciro, o grande rei da Pérsia. Portanto encontramos um ponto de identificação muito forte entre o comandante da Média, Dario, e o governador de Gutium que conquistou Babilônia para Ciro, Gubaru (ou Gobrias). Só que as semelhanças não param aí. A Crônica de Nabonidus menciona que Gubaru “instalou governadores em Babilônia”, exatamente como havia feito Dario através dos sátrapas e presidentes.

 

Agora vamos entender porque estas informações são importantes para estabelecermos a data em que ocorreu o episódio de Daniel na cova dos leões. A crônica acima mencionada informa que Gubaru conquistou Babilônia para Ciro no mês de Tashritu (aproximadamente outubro), e entre os meses de Kislimu até o mês de Addaru (aproximadamente dezembro a março) devolveu às suas respectivas cidades os deuses que Nabonidus havia trazido para Babilônia, e finalmente veio a falecer no mês de Arahshamnu (aproximadamente novembro). Ou seja, Gubaru (ou Dario) morreu cerca de um ano após conquistar a cidade de Babilônia. Portanto, a famosa história de Daniel na cova dos leões ocorreu durante este ano em que Dario ainda estava vivo, ou melhor, aproximadamente no ano 538 a.C., quando Daniel se encontrava com cerca de 84 anos de idade. Você já pensou em jogar um velhinho de 84 anos numa cova cheia de leões famintos? Pois foi isto o que aconteceu!

 

Desta forma a cronologia da primeira parte de Daniel fica assim definida:

 

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      605 a.C.           602 a.C.         594 a.C.          569 a.C.        539 a.C.         538 a.C.

    Capítulo 1        Capítulo 2       Capítulo 3       Capítulo 4      Capítulo 5      Capítulo 6

 

Idade (aproximada) de Daniel:

 

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       17                   20                  28                 53                  83                  84

 

 

A Conspiração

 

Acredito que a maior parte das pessoas que já tiveram algum tipo de cargo “importante” ou fizeram algum tipo de trabalho de “destaque” quer seja nas atividades seculares ou da igreja, já sentiram na pele o mesmo problema que Daniel teve que enfrentar. Não me reviro especificamente a ser jogado numa cova cheia de leões, mas sim o quanto perniciosa, maldosa, destrutiva e mortal pode ser as atitudes de pessoas movidas pelo sentimento da INVEJA.

 

Aliás, diga-se de passagem, foi exatamente este sentimento que originou o maior e mais grave problema do universo: o pecado. E como não poderia ser diferente, por trás deste sentimento horroroso está o EU (egocentrismo), que por sinal encontra-se por trás de todo sentimento negativo e pecaminoso. Sim, o EU sempre estará por trás do pecado! Isto me faz lembrar de como alguns crentes de língua inglesa explicam esta verdade: A palavra inglesa para pecado é SIN e a palavra que usam para Eu é a letra I (ex.: I am = Eu sou); por isto então podem dizer com propriedade que o EU (I) está sempre NO MEIO do PECADO (SIN). Entenderam?

 

Deus abençoou Daniel de tal forma que o transformou numa pessoa de grande potencial. Como toda pessoa de potencial, logo se distinguiu das demais pessoas, chamando desta forma a atenção e consideração especial do atual rei de Babilônia, Dario. Não demorou quase nada e ele já tinha um grupo de pessoas invejosas de olho nele. Porém quando o rei começou a cogitar na possibilidade de fazer dele o maioral dentre os três presidentes responsáveis pelos 120 governadores, a coisa se tornou insuportável para aquele grupo de invejosos. E como não podia ser diferente, começaram a procurar algum pretexto para “puxar o tapete” de Daniel.

 

A inveja age exatamente desta maneira. Ela sempre está muito bem acompanhada da covardia e da falsidade. Aqueles homens fizeram uma devassa geral na vida profissional de Daniel, na intenção de encontrar qualquer coisa para o acusar perante o rei, denegrindo assim sua imagem. Este é o “modus operanti” da inveja: “Quando tiver que enfrentar alguém melhor e mais forte que você, ao invés de provocar um confronto direto, destrua sua reputação”. Isto é diabólico! Digo diabólico não como força de expressão, pois o inventor desta sórdida tática é o próprio diabo! Foi exatamente esta a sua estratégia no céu perante Deus e os anjos!

 

Mas para a decepção e desespero daqueles invejosos, eles não conseguiram achar absolutamente nada contra Daniel. Acredito que eles até procuraram armar algumas armadilhas para envolvê-lo em flagrante corrupção, mas sem qualquer sucesso. Nada encontraram, nada tinham! Nem ao menos uma leve aparência do mal em que apoiarem suas acusações. Daniel era perfeito!

 

 

Daniel era Perfeito?

 

Achei a pergunta nº3 da lição particularmente interessante:

 

3. As declarações de Daniel 6:4 e 5 significam que o profeta era sem pecado? Se não, por que?

 

Como você respondeu a esta pergunta? Para você Daniel era perfeito ou de vez em quando cometia seus pecados como qualquer um de nós? Antes de qualquer coisa quero chamar a atenção para a impropriedade desta pergunta da maneira como foi colocada. O texto de Daniel 6:4 e 5 parece ser muito claro ao afirmar que no contexto dos negócios do reino seus invejosos conspiradores não puderam encontrar nada contra ele. A Bíblia diz que eles “procuraram achar ocasião contra Daniel a respeito do reino, mas não podiam achar ocasião ou culpa alguma” (verso 4). Ou seja, nas questões do reino, Daniel, como um alto funcionário da corte, era inculpável. O relato bíblico deixa bem claro que em sua função, Daniel era perfeito, e nada mais além disto. Porém, a pergunta parece nos conduzir a uma linha de pensamento que extrapola aquilo que a Bíblia afirma.

 

Quais foram os pecados que Daniel cometeu? Como podemos saber? A Bíblia nada fala sobre isto! O próprio comentário da lição na página 68 afirma que Daniel foi “um dos poucos personagens sobre quem a Bíblia não registra nada de negativo”. Ela só diz que ele nunca cometeu algo que permitisse àqueles homens o acusarem de qualquer transgressão (pecado) contra o reino ou contra o atual rei de Babilônia.

 

Porém é claro que Daniel como um ser humano, era um pecador carente de um Salvador exatamente como qualquer um de nós (Se alguém diz que não tem pecado é um mentiroso – ver I João 1:8). Não duvido disto! Só não gostei da ênfase que deram no fato de Daniel ser um pecador, em detrimento de outra realidade igualmente importante: a realidade daquele que permanece em Cristo não viverá pecando (I João 3:6). Nada falaram sobre isto! Preferiram enfatizar a obviedade de um Daniel pecador, mas nada falaram da maravilhosa graça de um Deus que pode transformar este mesmo miserável pecador em um alguém que não mais viverá continuamente pecando.

 

Não poderia Daniel estar vivendo uma vida de tão íntimo relacionamento e contínua dependência de Deus a ponto de não viver mais pecando? Não foi desta forma que Enoque foi trasladado? Por que então não conduzir os leitores da lição para que vislumbrem este alto ideal? Por que não chamar a atenção de que em Cristo poderemos ser muito mais que vencedores, tal como foram Daniel e Enoque? Perderam a chance! Ao invés de chamar a atenção para a santidade, chamam para a pecaminosidade. Lamentável!

 

É interessante como muitos de nós podemos sentir um certo prazer mórbido ao afirmar que ninguém pode ser perfeito! Tal pensamento parece nos aliviar e confortar: “Não se preocupe! A vitória completa sobre o pecado não é coisa a ser adquirida nesta vida. Somente seremos perfeitos após a volta de Jesus. Acostume de certa forma a viver com um pouco de pecado, pois será impossível se ver livre inteiramente dele antes da ressurreição ou da trasladação”. É aí que encontramos o propósito desta pergunta da maneira como foi colocada. A atual IASD tem se esforçado muito em combater aquilo que seus atuais líderes tem rotulado como “perfeccionismo”. Não irei me deter neste ponto, mas quero apenas lembrar que ele é somente a ponta de um enorme iceberg. Abaixo da superfície encontra-se o complexo e profundo tema da “natureza humana de Cristo”, que corretamente entendido inviabiliza a crença num Deus Triúno (É por este motivo que a atual IASD tem feito deste assunto um verdadeiro cavalo de batalha, sendo absolutamente intransigente).

 

Caso queira saber um pouco mais sobre este tão importante assunto, segue abaixo algumas dicas:

 

·        Leia o livro “Tocado por nossos Sentimentos” do Pr.Jean R.Zurcher (a publicação é leiga, porém o autor é pastor Ph.D. da IASD, secretário da Divisão Euro-Africana e presidente da Comissão de Pesquisa Bíblica da mesma divisão)

·        Compare com o livro “Ellen White e a humanidade de Cristo” (Casa Publicadora Brasileira) de Woodrow W. Whidden (um dos três autores do livro “A Trindade”)

·        No site Adventistas.com existem vários interessantes artigos sobre este assunto (acesse-os através da linha de busca). Vale a pena conferir! (Especialmente o esclarecedor livro on-line “A Natureza Humana de Cristo” no endereço www.adventistas.com/maio2002/natureza_cristo.htm )

 

Voltando ao complô contra Daniel, como os conspiradores não encontraram nada na vida política de Daniel, resolveram mudar de tática. Eles sabiam que a fidelidade de Daniel ao rei só não era maior que sua fidelidade ao seu Deus. Provavelmente eles tiveram conhecimento da história relatada no capitulo 1 e 3, e sabiam que a única maneira de torna-lo infiel ao rei seria confrontando sua fidelidade ao homem com a sua fidelidade a Deus.

 

Os conspiradores jogaram a isca da exaltação própria saborosamente recheada com a lisonja, de forma que prontamente foi fisgada pelo ego do rei Dario. Também não era para menos! Eles estavam propondo ao rei Dario que durante 30 dias se transformasse no único deus e senhor a quem todos os seus súditos poderiam recorrer.

 

 

Daniel errou?

 

Neste ponto (texto de terça-feira) a lição entra numa constrangedora contradição. Na lição de domingo o autor fez questão de destacar as características do fiel servo Daniel: um homem cheio do espírito de Deus, cujos frutos tais como sabedoria, fidelidade, humildade, temperança (domínio próprio) eram notados por todos ao seu redor. Agora, já na lição de terça-feira o autor sutilmente sugere que Daniel pode ter se equivocado quanto a sua postura logo após saber do decreto do rei.

 

Primeiro ele pergunta após apresentar o texto de Mateus 6:6 se não teria sido mais fácil para Daniel continuar sua comunhão com Deus em secreto:

 

“Talvez tivesse sido uma saída mais fácil, mas teria sido errada? Por que criar dificuldades quando não precisava?” (Pág.69 da Lição do professor)

 

Depois ele faz duas perguntas que a primeira vista me sugeriu imparcialidade, permitindo o leitor pensar por si mesmo ao responder cada uma das perguntas:

 

5. Por que Daniel deveria ter fechado a porta e não dado aos seus inimigos a oportunidade de lhe fazer dano? Que evidência bíblica você pode dar para as suas razões?

 

6. Por que Daniel deveria ter feito o que sempre fazia, apesar da armadilha em que estava entrando? Que evidência bíblica você pode dar para as suas razões?

 

Porém, logo em seguida apresenta uma infeliz comparação entre o Pr.Jones e Ellen White, sugerindo e induzindo sutilmente o leitor a conjeturar que provavelmente Daniel teria se equivocado em sua atitude. Percebam que o autor em nenhum momento diz claramente a sua opinião quanto a atitude de Daniel. Aliás, este tem sido um grande problema das lições ultimamente: “Autores que ficam em cima do muro com medo de se posicionarem claramente”. Eles abrem uma questão, muitas vezes polêmica, despertam a curiosidade, mas não fecham o assunto com um claro e direto “Assim diz o Senhor”.

 

A comparação entre a postura do Pr.Jones e os conselhos de Ellen White sugere que Daniel foi imprudente ao desafiar desnecessariamente uma ordem real, provocando assim uma situação que poderia ter sido evitada. Quero aqui apresentar o meu protesto pela forma manipulativa que este assunto foi abordado. Isto foi uma covardia intelectual! Colocaram de um lado as supostas idéias de um pastor chamado A.T.Jones que a maioria dos adventistas não sabe quem foi, nem o que fez pela causa de Deus, e de outro lado os conselhos de Ellen White, alguém que atualmente é tida pela maioria dos adventistas como o próprio “Espírito de Profecia” encarnado, infalível em todos seus conselhos e orientações. De que lado vocês acham que a maioria dos adventistas irá ficar? Está claro que depois desta comparação, ninguém terá coragem de encontrar razões para defender a postura assumida por Daniel.

 

Mas analise comigo por esta perspectiva: Primeiro, Daniel, por toda a sua história, me parece sábio demais para cometer uma imprudência aparentemente tão infantil. O texto bíblico (verso 10) revela que Daniel entrou em sua casa para orar imediatamente após ter tido conhecimento do decreto do rei, ou seja, ele sabia muito bem o que estava fazendo. Segundo, o decreto que o rei havia acabado de ser induzido a assinar transformara-o no único deus acessível pelos próximos 30 dias. Isto não era um “decretinho” qualquer para simplesmente satisfazer o ego de um monarca, e sim um decreto que constituía numa afronta direta a soberania do Deus Eterno (mesmo em Babilônia). Os conspiradores sabiam muito bem disto, pois não iriam fazer algo que pudesse simplesmente ser contornado com uma postura mais discreta por parte de Daniel. Eles sabiam que tal decreto iria de encontro as mais profundas convicções de Daniel (“Não terás outros deuses diante de Mim” Êxodo 20:3 – O primeiro mandamento da Lei de Deus), de forma que ele não permitiria deixar sua consciência ser violada simplesmente calando e se escondendo diante de uma violação tão aberta e provocativa como foi aquele pretensioso decreto idólatra.

 

Acredito, pelas evidências encontradas no próprio livro de Daniel (ver a atitude de Daniel no capítulo 1 e de seus amigos no capítulo 3), que a atitude do profeta diante do decreto não foi equivocada ou imprudente, e sim a única forma que ele tinha de se posicionar do lado do Deus Eterno de forma a glorificar o Seu nome e servir de testemunho para todos os demais. Qualquer coisa que ele fizesse diferente disto seria pactuar (ser conivente) com um pecado tão ofensivo, desonrando o nome de Deus e sendo como um sal insípido no meio em que vivia. O rei Dario que já tivera conhecimento a respeito do Deus de Daniel, a exemplo de Nabucodonosor, estava entrando num caminho de eterna perdição, levando consigo todo o restante da nação. Ficar convenientemente calado e escondido naquela situação equivale a fingir estar comendo da mesa do rei os proibidos manjares, ou se prostrar juntamente com toda a multidão diante da estátua de ouro com a desculpa de naquele momento estar dirigindo sua oração e adoração ao Deus Eterno (racionalização).

 

Como terceiro e último argumento, quero apresentar o verso 22 onde Daniel diz: “O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim INOCÊNCIA diante dele. Também contra ti, ó rei, não cometi delito algum”. Será que Daniel teria alegado inocência diante de Deus caso tivesse sido imprudente e provocado desnecessariamente a ira da lei dos homens só para evidenciar sua postura fanática? O seu milagroso livramento não poderia nos servir de evidência mais que suficiente para demonstrar que o Senhor Deus aprovou sua atitude, bem como o estava dirigindo ao tomá-la?

 

 

Quem foi o Pr. A.T.Jones?

 

Quando falei acima que o autor da lição foi infeliz ao mencionar o nome do Pr.Jones no contexto e da forma que mencionou, refiro-me ao fato de que desta forma ele não fez jus ao nome nem ao trabalho deste pastor em favor da causa adventista, e muito menos em favor da causa de Deus. Pelo contrário, só conseguiu gerar um grande preconceito em relação a tudo mais que deve estar ligado ao seu nome. E é exatamente neste ponto que eu acredito que tal menção foi propositalmente planejada e com segundas intenções.

 

Quem foi o Pr. A.T. Jones?

 

Se você pesquisar na literatura oficial adventista, irá encontrar muito pouca coisa a seu respeito. Por exemplo, no livro “Mensageira do Senhor” de Herbert E. Douglass publicado em português no ano de 2001 pela Casa Publicadora Brasileira, nas páginas 247-251, encontramos:

 

 

Que tal? Um pastor agitador, rebelde e finalmente apóstata. É desta forma que a atual IASD vê este homem, e isto é tudo que alguns poucos adventistas conhecem atualmente sobre o Pr.Jones.

 

Agora veja quem realmente foi o Pr.Jones e o que fez:

 

“A mensagem da verdade encontrou A.T. Jones como um soldado do Exército dos Estados Unidos. Conquanto não fosse produto de escolas, ele estudava noite e dia, reunindo um grande cabedal de conhecimento bíblico e histórico. J. S. Washburn, que o conheceu pessoalmente, nos disse que ele era uma pessoa humilde, zelosa e de profundos sentimentos, cujas orações eficazes davam testemunho de que conhecia ao Senhor (entrevista de 4 de junho de 1950).

O agudo intelecto do jovem Jones equilibrava-se com uma fé cálida, simples e infantil. Nos tempos em que foi usado por Deus, ele era poderoso na pregação e no ministério pessoal. Nos anos imediatamente seguintes a 1888, houve significativas demonstrações do Espírito de Deus operando por seu intermédio, inclusive um ministério especial em Washington no Senado dos Estados Unidos para derrotar a lei dominical de Blair. De fato, esse quase um século de liberdade religiosa que os americanos desfrutam é um legado dos esforços eficazes de Jones e Waggoner, não reconhecidos e não honrados, ao oporem-se eles à intolerância religiosa em seus dias.” 1888 Reexaminado escrito por Donald K. Short e Robert J. Wieland (este livro esta disponível de forma online no endereço www.adventistas.biz/1888_reexaminado/index.html )

 

Em 1888, o Senador Blaire apresentou uma proposta de lei ao Congresso dos Estados Unidos visando estabelecer a observância do primeiro dia da semana como um dia destinado a adoração religiosa e repouso. O Pr.Jones, uns dos líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia, se apresentou diante do Congresso dos Estados Unidos. Deram-lhe uma hora para apresentar seu caso diante do Congresso. Ele pediu um tempo para se preparar e concederam-lhe 24 horas. No dia seguinte sua apresentação não durou uma hora como haviam dito; ele esteve falando e respondendo perguntas por quatro horas diante do Congresso da nação americana. Graças à defesa erudita e incrível apresentada pelo Pr.Jones, a proposta de lei foi recusada pelo Congresso (Sua defesa diante do Congresso Norte-Americano bem como todas as perguntas que lhe fizeram os congressistas e as respostas que ele deu, foram publicadas no livro “Folhas de Outono” publicado pela Casa Publicadora do Texas).

 

O Senador Blaire voltou a apresentar uma proposta de lei no ano de 1889. Só que desta vez não apresentou uma lei dominical, visto que já havia sido recusada. Propôs uma emenda à Constituição dos Estados Unidos, requerendo que nas escolas públicas se ensinasse religião cristã protestante e a orar. Seu propósito era de cristianizar as escolas públicas dos Estados Unidos. Outra vez o Pr.Jones se apresentou diante do Congresso. Ele argumentou que a Constituição dos Estados Unidos declarava que nunca o Governo ou o Estado e as escolas públicas que pertencem ao estado, poderiam estabelecer leis de caráter religioso, porque o estado e a igreja estavam separados. Tão hábil foi a defesa do Pr.Jones, que mais uma vez a proposta de se emendar a Constituição foi recusada.

 

Você está conseguindo entender melhor quem foi o Pr.Jones e o que realmente fez não somente pela causa adventista, mas pela Liberdade Religiosa que até hoje é ainda desfrutada em toda nação norte-americana?

 

Mas esta parte de seu ministério não foi ainda a principal maneira como Deus o usou. Algo muito mais impressionante e de importância incalculável aconteceu na vida deste homem. Ellen White assim se pronunciou a respeito de seu ministério:

 

“O Senhor em Sua grande misericórdia enviou uma mensagem muito preciosa a Seu povo mediante os Pastores Jones e Waggoner. Essa mensagem devia trazer mais destacadamente perante o mundo o Salvador elevado, o sacrifício pelos pecados do mundo inteiro... Deus deu a Seus mensageiros exatamente aquilo de que carecia o povo.” (1895; TM 91, 95).

 

Donald K. Short e Robert J. Wieland continuam falando em seu livro 1888 Reexaminado:

 

“Por oito anos após 1888, Ellen White freqüentemente referia-se a esses dois jovens cavalheiros como “os mensageiros do Senhor”, endossando-os em palavras nunca proferidas quanto a mais ninguém. Há entre 200 e 300 declarações entusiásticas da parte dela. Em 1890 declarou:

 

“Suponde que elimineis o testemunho que tem sido apresentado durante esses últimos dois anos, proclamando a justiça de Cristo, a quem poderíeis apontar como trazendo luz especial para o povo?” (RH, 18 de março de 1890).

 

Em 1888 ela tinha dito:

 

“Deus está apresentando às mentes de homens divinamente designados gemas preciosas de verdade, apropriada para o nosso tempo.” (MS. 8a, 1888, A. V. Olson, Through Crisis to Victory, p. 279; doravante Ol­son).

 

“A mensagem que nos é dada por A. T. Jones e E. J. Waggoner é a mensagem de Deus à igreja laodiceana.” (Carta S24, 1892).

 

Quando ela primeiro ouviu a mensagem de Waggoner, imediatamente percebeu o seu verdadeiro significado. Era uma revelação especial para a igreja e para o mundo:

 

“Tem-me sido dirigida a indagação sobre o que eu penso dessa luz que esses homens estão apresentando. Ora, tenho-a apresentado a vós pelos últimos quarenta e cinco anos -- as incomparáveis belezas de Cristo. É isto que tenho estado tentando apresentar perante vossas mentes. Quando o irmão Waggoner apresentou essas idéias em Mineápolis, foi o primeiro ensino claro sobre esse assunto de quaisquer lábios humanos que ouvi, exceto as conversas entre mim e meu esposo. Disse a mim mesma que é porque Deus tem-na apresentado a mim em visão que eu a vejo tão distintamente, e eles não podem vê-la porque não a tiveram apresentada a eles como a mim tem sido, e quando outro a apresentou, toda fibra de meu coração disse amém.” (Ms. 5, 1889).

 

Em nossa moderna terminologia, ela percebeu que a mensagem era uma transmissão que aplicaria poder do motor para as rodas. Por “quarenta e cinco anos” ela tinha estado girando o motor, mas o poder para completar a comissão evangélica não estava passando adiante. Agora percebia como a nova mensagem suplementando a velha realmente prepararia o povo daquela geração para a vinda do Senhor. Não admira que estivesse tão feliz!

 

Leia mais algumas declarações de peso de Ellen White a respeito do Pr.Jones:

 

“Agora desejo que sejais todos cautelosos com respeito a que posição tomais, se vos envolverdes nas nuvens da descrença por notar imperfeições; vedes uma palavra ou um pequeno ponto, talvez, que possa vir a ter lugar, e julgai-os [Jones e Waggoner] por isso... Deveis observar é se Deus está operando com eles, e então reconhecer o Espírito de Deus que é revelado neles. E se escolherdes resistir, estareis agindo da mesma maneira como os judeus agiam.” (Sermão, 9 de março de 1890; MS. 2, 1890).

 

“Deus me deu alimento no tempo certo para o povo, mas foi recusado por não ter vindo exatamente da maneira que esperava que viesse. Os Pastores Jones e Waggoner apresentaram luz preciosa ao povo, mas o preconceito e descrença, ciúme e vãs suspeitas barraram a entrada dos corações de modo que nada dessa fonte poderia encontrar entrada em seus corações.” (Carta 14, 1889).

 

“[Os irmãos oponentes] foram movidos durante a assembléia [de Mineápolis] por outro espírito, e não sabiam que Deus havia enviado esses jovens para levarem uma mensagem especial a eles, a qual trataram com ridicularia e desprezo, não reconhecendo que as inteligências celestes estavam olhando para eles. . . Eu sei que naquele tempo o Espírito de Deus foi insultado” (Carta S24, 1892)

 

“Vi que Jones e Waggoner tiveram sua contrapartida em Josué e Calebe. Como os filhos de Israel apedrejaram os espias com pedras literais, vós apedrejastes esses irmãos com pedras de sarcasmo e ridículo. Vi que vós voluntariamente rejeitastes o que sabíeis ser a verdade. Apenas porque ela era por demais humilhante para a vossa dignidade. Vi alguns de vós em vossas tendas arremedando e fazendo toda a sorte de galhofas desses dois irmãos. Vi também que se tivéssemos aceito a mensagem deles teríamos estado no reino após dois anos daquela data, mas agora temos de retornar ao deserto e ficar 40 anos." E.G.White, Escrito de Melbourne, Austrália, 09.05.1892.

 

Será que você está conseguindo entender quem realmente foi o Pr.Jones e quão preciosa foi a mensagem que, pela graça de Deus, transmitiu a nossa igreja, bem como quão importante e solene foi o seu ministério?

 

Você conhece o teor das mensagens transmitidas pelo Pr.Jones e Pr.Waggoner? Caso ainda não conheça, recomendo os sites abaixo onde você poderá entrar em contato com material preciosíssimo:

 

www.adventistas.info (em português)

www.libros1888.com (em espanhol)

www.1888msc.org (em inglês)

 

E quanto à exclusão do Pr.Jones? Bem, este episódio precisa ser analisado de forma muito criteriosa (caso queira conhecer um pouco melhor este assunto recomendo que leia o artigo no endereço: www.adventistas.com/marco_2003/apelo_jones.htm ), mas ao invés de entrarmos nesta questão, quero apenas mencionar um texto de Ellen White com respeito a este assunto antes dele se concretizar:

 

“É bem possível que os pastores Jones ou Waggoner sejam dominados pelas tentações do inimigo; mas se o forem, isso não provaria que não dispunham de qualquer mensagem de Deus, ou que a obra que haviam reali­zado foi toda um equívoco. Caso isso se dê, quantos tomariam essa posição e entrariam num engano fatal por causa de não estarem sob o controle do Espírito de Deus. . . . Essa é a posição mesma que muitos tomariam se qualquer desses homens  caísse, e eu oro para que esses homens sobre os quais Deus depôs a carga de uma obra solene, possam ser capazes de dar à trombeta o sonido certo, e honrem a Deus em cada etapa, e que o seu caminho a cada passo possa ser mais e mais brilhante até o fim do tempo.” (Carta S24, 1892).

 

Por esta razão é que digo que a maneira como o autor da lição o apresentou foi equivocada e tendenciosa. Pergunto: Por que a atual IASD pouco fala dos pastores Jones e Waggoner? E por que quando falam, o fazem de tal maneira que denigrem seu ministério e geram preconceito quanto à mensagem que pregaram? Por que as Casas Publicadoras Adventistas não mais publicam os livros que estes homens escreveram? Por que as atuais revistas e periódicos adventistas não publicam um único artigo sequer escrito por estes homens? Por que estão difamando, caluniando, perseguindo e excluindo quem quer que se proponha a pesquisar e estudar por si mesmo a verdadeira e história e doutrinas de nossa igreja nos tempos dos pioneiros? Por que estão chegando ao extremo de barrar o acesso de um membro adventista à biblioteca da Conferência Geral para ali pesquisar nos documentos originais dos primórdios de nossa igreja? Por que a atual IASD está procedendo desta maneira? POR QUE?

 

Meu estimado irmão, abra os olhos! A atual IASD já não é a mesma do tempo de nossos pioneiros. Muita coisa mudou e continua mudando. Não são somente os costumes, músicas ou a moda que mudaram em nossa igreja. Coisa muito pior e mais grave aconteceu. Mudaram a doutrina de nossa igreja! Ela já não é mais a mesma que a do tempo de nossos pioneiros.

 

“A maior necessidade do mundo é a de homens – homens que se não comprem nem se vendam; homens que no seu íntimo sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Ellen White – Educação pág.57

 

Irmão X


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