Lição da Escola Sabatina - 2º Trimestre de 2006

 

O Espírito Santo

 

 

Lição 11 – O Restaurador

 

 

A essência da conseqüência do pecado é a separação de Deus, e separado de Deus, o homem perdeu a capacidade de “não pecar”. Separados de Deus, estamos sentenciados a continuar pecando enquanto vivermos. É por isso que em Efésios 2:1 (“...estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”) o homem em pecado (sem Cristo) é comparado a um “morto”. Que escolha pode ter um morto? Um morto não tem livre arbítrio, ele não pode decidir se quer continuar morto ou se quer viver. Ele não tem escolha! Só lhe resta continuar morto. O pecado é tão terrível que tirou de nós a capacidade de escolher entre “não pecar” e o “pecar”. Sem Cristo não temos escolha, pois, inerentemente, teremos apenas uma única opção, que é continuar pecando.

 

Ellen White explica isso muito bem:

 

“É nos impossível, por nós mesmos, escapar ao abismo do pecado em que estamos mergulhados. Nosso coração é ímpio, e não o podemos transformar. A educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano...não podem mudar o coração; são incapazes de purificar as fontes da vida.” Caminho a Cristo pág. 18

 

“Se, porém, cedessem uma vez à tentação, sua natureza se tornaria tão depravada que não teriam em si poder nem disposição para resistir a Satanás.” Patriarcas e Profetas pág. 53

 

“Em si mesmo”, o homem não tem a força nem o desejo de parar de pecar.

 

Somos pecadores por natureza e por opção (Ellen White fala de “tendências herdadas e cultivadas para o mal”). A separação de Deus que o pecado nos ocasionou é tão grave que corrompeu totalmente nosso ser (Romanos 3:9-18 explica bem isso). Salmos 51:5 deixa claro que todos nós nascemos com uma natureza pecadora (ver também Rom.7:14 e 18).

 

Como conseqüência, não nos tornamos pecadores pelo fato de cometermos pecados, mas cometemos pecados porque somos (nascemos) pecadores.

 

Em suma: Aquilo que o homem não pode fazer por si mesmo, é mudar a sua natureza pecadora:

 

“Pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Tampouco podeis vós fazer o bem, acostumados que estais a fazer o mal.” Jeremias 13:23

 

Só o ato sobrenatural da graça de Deus em nosso coração (natureza) pode transformá-lo:

 

“Não podemos de nós mesmos, vencer os maus desejos e hábitos que lutam pela predominância. Não nos é possível dominar o poderoso inimigo que nos mantém em escravidão. Unicamente Deus nos pode dar a vitória.” O Maior discurso de Cristo pág. 142

 

Esse ato sobrenatural da graça de Deus começa com Sua atração. Ele que dá o primeiro passo. A iniciativa é sempre dEle, pois nós estávamos “mortos em delitos e pecados” lembra? Não podíamos fazer nada, pois nem sequer tínhamos noção de que a nossa condição era tão grave assim. É o Senhor que nos abre os olhos para a nossa real condição. Então, e somente então, é que estou em condições de escolher entre continuar nos meus pecados (continuar morto) ou continuar permitindo que Ele me conduza para a vida, “e vida em abundância” (João 10:10).

 

O importante é destacar que a iniciativa em salvar-nos foi dEle e não nossa:

 

“Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” I João 4:19

 

“Sem Mim nada podeis fazer... Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” João 15:5 e 16

 

“Mas Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” Rom.5:8

 

Porém este raciocínio nos leva a uma pergunta intrigante: Se não podemos fazer nada para salvar-nos ou ao menos merecer sermos salvos, mas dependemos única e exclusivamente da graça de Deus, porque muitos irão se perder? A nossa salvação não depende só de Deus? Ele não quer salvar a todos? Então porque não o faz?

 

É nesta etapa do processo da salvação que entra o livre arbítrio do homem. Somente depois que o Senhor deu o primeiro passo é que entra a parte do homem, ou seja, escolher se quer permitir que o Senhor continue a lhe comunicar vida, ou se quer voltar a ser um cadáver espiritual.

 

A este processo é o que acostumamos de chamar de novo nascimento ou conversão, e pode ser explicado como uma obra sobrenatural de Deus no coração humano produzindo uma mudança de atitude para com Deus e criando em nós uma nova capacidade para conhecer e amar a Deus.

 

Se Deus não tivesse dado o primeiro passo eu jamais teria chance de dizer “quero” ou “não quero”.

 

Aquilo que o homem não pode fazer por si mesmo, isto é, ir ao encontro do Senhor em busca de perdão e transformação (“não há quem busque a Deus...não há nenhum só” – Rom.3:11-12), o Senhor faz dando o primeiro passo e indo atrás de nós (“onde estás?” - Gen.3:9).

 

Nossa parte é simplesmente responder a iniciativa do Senhor em nos salvar, permitindo que Ele continue nos salvando pelo resto de nossas vidas:

 

“Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também andai nEleCol.2:6

 

A responsabilidade por nossa salvação está inteiramente nas mãos do Senhor se unicamente não recusarmos:

 

“Tendo por certo isto mesmo, que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus” Fil.1:6

 

A responsabilidade por nossa perdição eterna está exclusivamente em nossas mãos:

 

Tu não quisestes Mat. 23:37

 

Ilustrando:

 

Em 1863, Abraham Lincoln assegurou, a todo escravo pertencente aos territórios confederados, a liberdade. Do ponto de vista legal a liberdade já havia sido disponibilizada. Para Abrahan Lincoln e se dependesse de sua vontade somente, todo escravo em território confederado já estava livre. Só que do ponto de vista do escravo, ele só iria se beneficiar do ato de Abrahan Lincoln e desfrutar a liberdade se ouvisse, acreditasse e começasse a viver em liberdade.

 

Imaginemos que em alguma fazenda dos territórios confederados um escravo ouvisse a notícia de que alguém já havia providenciado sua liberdade e que de acordo com a vontade desta pessoa, ele já era um homem livre. Mas por algum motivo misterioso, aquele escravo não acredita.

 

O que aconteceria?

 

Ele continuaria vivendo como escravo apesar de todas as providências já haverem sido tomadas. Abrahan Lincoln colocou a liberdade em suas mãos, mas ele recusou aceitá-la.

 

Se algum jornalista fosse entrevistar Abrahan Lincoln e lhe perguntasse se o seu ato libertou a todo escravo em seu território, ele responderia:

 

“Sim, a minha decisão abrange a todos escravos concedendo-os a liberdade.”

 

“Mas como fica aquele homem que continua escravo naquela fazenda?” – perguntaria o repórter.

 

Creio que Abrahan Lincoln responderia:

 

“Minha decisão também o inclui, só que ele não quis aceitar. Ele recusou! Continua como escravo porque quer!”

 

Se você já aplicou a ilustração ao nosso caso em estudo poderá perceber que:

 

Da perspectiva divina, com o sacrifício de Jesus, todo pecador foi “justificado”. Neste sentido Cristo é o “Salvador do mundo” (João 4:42; I João 4:14).

 

Da perspectiva do pecador, a salvação (justificação) só se efetiva quando ele ouve, aceita e começa a viver com base na realidade que Cristo conquistou para ele.

 

É por este motivo que Paulo em I Timóteo 4:10 afirma:

 

“Pois para isto é que trabalhamos e lutamos, porque esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis.

 

A palavra grega usada para principalmente é malista que significa “em especial”, “especialmente”, “com plena efetividade”, etc. (Ver Gal.6:10 onde a mesma palavra grega aparece).

 

O Deus vivo é o Salvador (Justificador) de todos os homens, mas com plena efetividade na vida daqueles que O aceitam (os fiéis).

 

Da perspectiva divina : Em Cristo todos foram legalmente justificados (salvos). Nada fizemos, Ele fez tudo, a iniciativa foi exclusivamente dEle. É neste sentido que podemos afirmar que antes de reivindicarmos justificação (salvação) já estamos legalmente justificados (salvos). Neste caso (da perspectiva divina), a fé não muda nossa realidade perante Deus, pois quer queiramos ou não, Ele já efetuou nossa salvação na cruz. A mensagem de Justificação pela Fé anunciada na Igreja Adventista em 1888 dá ênfase a esta perspectiva da justificação, ou seja, na realização de Deus e não na aceitação do homem.

 

Da perspectiva do pecador : É pela fé que a realidade da justificação (salvação) já realizada na cruz passa a fazer diferença em nossas vidas. A fé simplesmente irá reconhecer esta realidade existente passando a vivê-la (justificação pela fé).

 

De quem é a responsabilidade por nossa salvação?

 

A responsabilidade por nossa salvação é colocada sobre Deus e não sobre nós. Se formos salvos será unicamente por causa graça de Deus mediante Cristo Jesus.

 

De quem é a responsabilidade por nossa perdição?

 

A responsabilidade por nossa perdição será exclusivamente nossa se deliberadamente recusarmos tão grande salvação. Se nos perdermos será unicamente por nossa causa.

 

É exatamente isto que a Bíblia ensina. A responsabilidade por nossa salvação está nas mãos de Deus:

 

“Tendo por certo isto mesmo, que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus”. Fil.1:6

 

A responsabilidade por nossa perdição é somente nossa:

 

“Jerusalém, Jerusalém! Que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste!”. Mat.23:37

 

É desta perspectiva que podemos afirmar que é fácil salvar-se e é difícil perder-se: “Quando olhamos para nós não vemos como poderemos ser salvos, mas quando olhamos para Jesus não vemos como poderemos nos perder”.

 

Resumindo:

 

Somos completamente salvos unicamente pela graça, baseados exclusivamente na fé em tudo aquilo que o Senhor realizou e continua realizando em nosso favor. Deus fez tudo! Se não fosse por Ele continuaríamos sem opção de escolha, pois quando só existe uma opção, a saber, pecar, não existe escolha. Quando passamos a ter opção para escolher, é porque foi Ele que nos deu esta opção, a saber, continuar sendo um pecador ou permitir que Ele nos transforme.

 

Logo, se escolhermos permitir que Ele continue a obra de salvação que Ele mesmo iniciou, nada temos em que nos vangloriar ou pensar que somos melhores que aqueles que recusaram, pois foi Seu amor que nos constrangeu a aceita-lO (II Cor.5:14).

 

“Mas longe esteja de mim, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo” Gal.6:14

 

É a ênfase na iniciativa e realizações de Deus em detrimento daquilo que pode fazer o homem, que torna a mensagem da Justificação pela Fé de 1888 tão peculiar e apropriada para preparar um povo para ser selado pelo Deus vivo, estar em pé durante o tempo de angústia e finalmente ser transladado ao Jesus voltar:

 

“O que é justificação pela fé? - É a obra de Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele por si mesmo não pode fazer.” Testemunho para Ministros e Obreiros Evangélicos, 63

 

 

Jesus é o verdadeiro restaurador:

 

Eis que faço novas todas as coisas.” Apoc. 21:5

 

 

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