Comentário da lição da Escola Sabatina do 3º Trimestre de 2006

 

O EVANGELHO, 1844 E O JUÍZO

 

 

RESPOSTAS A CRÍTICAS E OBJEÇÕES - 1

 

 

A partir desta lição estaremos comentando também algumas críticas e objeções que temos recebido ao longo deste trimestre, tanto dos evangélicos em geral como de alguns adventistas.

 

Para facilitar a leitura estaremos usando cores diferentes no texto:

 

Críticas e Objeções

 

Resposta do Arquivo X da IASD

 

 

 

1- Não existe paralelismo entre o Chifre pequeno de Daniel 7 e Daniel 8

 

a) Existe uma mudança de foco entre os capítulos 7 e 8

 

Daniel 7

Daniel 8

Potências Mundiais representadas por animais imundos

Potências Mundiais representadas por animais limpos (utilizados no serviço do santuário)

Escrito em Aramaico

Escrito em Hebraico

Escrito para os Gentios (não-judeus)

Escrito para os judeus

Ênfase na história mundial

Ênfase no Ritual do Santuário

 

Esta aparente mudança de foco não compromete em nada o princípio do paralelismo progressivo. Este princípio pode ser visto claramente entre os capítulos 2 e 7 com a característica de que a visão seguinte não somente repete o que já foi mostrado, só que com símbolos diferentes, mas também amplia a visão anterior apresentando novos detalhes. O mesmo princípio para ênfase e ampliação pode ser percebido entre os capítulos 7 e 8.

 

Capítulo 2

Capítulo 7

Capítulo 8

Interpretação

Peito e Braços de Prata

Urso que se levanta de um lado

Carneiro com dois chifres

Império Medo-Persa

Quadris e Coxas de Bronze

Leopardo com 4 cabeças e 4 asas

Bode com um chifre que dá lugar para outros 4 chifres

Império Greco-Macedônico

Pernas de Ferro

Animal terrível e espantoso

Chifre Pequeno que cresce muito  politicamente 

Império Romano

(Roma Pagã)

Pés em partes de Ferro e Barro

10 chifres sobre o 4º animal

Chifre Pequeno

se engrandece

espiritualmente

e ataca o

Santuário

Nações da Europa

 

Chifre Pequeno

Papado

(Roma Cristã)

 

No capítulo Roma é simplesmente simbolizada como as pernas de ferro da estátua, já no capítulo 7 é representada pelo animal terrível e espantoso, só que com o acréscimo do detalhe do Chifre Pequeno que surge deste animal. As maléficas ações espirituais deste Chifre Pequeno são destacadas no capítulo 7 e ampliadas no capítulo 8, sugerindo o interesse de Deus em chamar a atenção de seu povo para este poder.

 

Não vejo dificuldade alguma na mudança dos símbolos entre Daniel 7 (animais imundos) e Daniel 8 (animais limpos), bem como na mudança da escrita aramaica (desde Dan. 2:4 até Dan. 7:28) para a hebraica (Dan. 8:1 até o fim do livro), pois apenas reforçam o entendimento de que o foco do capítulo 8 é o Santuário.

 

Agora, concluir que devido a estas mudanças, Daniel 7 foi escrito para os gentios e Daniel 8 para os judeus, pode ser um equívoco. A mesma mudança de idioma acontece em Esdras (escrito em aramaico do cap. 4:8 até 6:18) e seria um erro afirmar que a parte em aramaico foi escrita para os gentios e a hebraica para os judeus. É interessante notar que tanto Daniel como Esdras começam a escrever em aramaico após mencionar algo que foi dito ou escrito na língua aramaica. É provável que o retorno deles para a escrita hebraica acontece motivado pelo assunto que passam a descrever (no caso de Esdras a narração da Páscoa, e no caso de Daniel uma visão cujo foco é o santuário).

 

Como foi demonstrado acima, a mudança de foco entre os capítulos 7 e 8 em nada comprometem o paralelismo marcante entre eles.

 

b) Diferenças entre os Chifres Pequenos de Daniel 7 e 8

 

Diferença nº.

Daniel 7

Daniel 8

1

Está associado ao 4º império

Está associado ao 3º império

2

Surge da cabeça

Surge de um chifre

3

Surge em meio aos 10 chifres

Não nasce da cabeça do bode

4

Nasce de um animal

Nasce de um chifre

5

Um poder novo que surge do corpo do antigo império

Sai de um dos 4 chifres do bode

6

Seu campo de influência é a totalidade do 4º império

Pertence somente a uma das 4 divisões do poder do bode

7

Arranca 3 chifres quando surge

Não arranca nenhum chifre quando surge

8

7:8 em aramaico: “outro chifre, um pequeno”

8:9 em hebraico: “um chifre de pequeno tamanho”

9

Mais robusto do que seus companheiros

Um chifre de pequeno tamanho

10

Se levanta contra o Altíssimo e Seus santos que viveram durante o 4º império

Se levanta contra o povo judeu (sumo sacerdote, sacrifícios e o santuário)

 

Mais da metade das diferenças acima (nºs 1 a 6) poderiam ser resumidas numa única diferença, pois todas estão querendo dizer a mesma coisas (são redundantes/repetitivas). A base delas encontra-se no entendimento de que o chifre pequeno de Daniel 8 surge de um dos quatro chifres do bode.

 

Tal entendimento está equivocado, pois no hebraico o verso 9 não diz: “de um dos quatros chifres” (tradução interpretativa e tendenciosa), mas diz: “de um deles”.  Imediatamente antecedendo a frase onde lemos a palavra “deles” está a expressão “quatro ventos do céu”, sendo muito mais natural relacionar a palavra “deles” com o seu antecedente imediato (de um dos quatro ventos do céu). Para entendermos como “de um dos quatro chifres” precisamos forçar a relação da palavra “deles” com os “quatro chifres”.

 

Mas o argumento acima não é o único que impossibilita o vínculo da palavra “deles” com os “quatro chifres”. A explicação proveniente da gramática hebraica é ainda muito mais convincente:

 

Na gramática hebraica a palavra “chifre” (qeren) do verso 8 é uma palavra feminina, e a palavra “ventos” (ruach) pode ser tanto masculina como feminina. Como o pronome pessoal “eles” (de + eles = deles) deve concordar com o substantivo que o antecede, este pronome deveria ser feminino caso ele realmente se referisse aos chifres. Porém, o que acontece é que na língua hebraica o “deles” do verso 9 é uma palavra masculina, sendo completamente inviável que ela esteja relacionada com a palavra chifres. O correto é a palavra masculina “deles” do verso 9 estar relacionada com a palavra “vento” que pode ser tanto masculina como feminina.

 

Desta forma com apenas 2 pauladas liquidamos 6 supostas diferenças.

 

A diferença nº. 7 é insignificante tendo em vista que as figuras simbólicas mudaram. No capítulo 7 tínhamos uma besta com 10 chifres, portanto fazia sentido mencionar que o Chifre Pequeno abateria 3 durante seu processo de crescimento. Já no capítulo 8 a profecia limita-se a mencionar que este chifre pequeno surgiria de um dos quatro cantos da terra.

 

A diferença nº. 8 chega nem a ser diferença uma vez que a expressões são sinônimas.

 

A diferença nº. 9 não existe, pois da mesma forma que o capítulo 7 fala de um Chifre Pequeno que era mais robusto de que os seus companheiros, o capítulo 8 fala de um Chifre Pequeno que cresceu muito tanto geograficamente como espiritualmente (perceba como a palavra “engrandeceu-se” ou “tornou-se grande” é repetida nos versos 10 e 11).

 

Finalmente a diferença nº. 10 se baseia na mesma premissa utilizada nos itens de nº. 1 a 6. Quando o capítulo 7 fala do Chifre Pequeno se levantando contra o Altíssimo e Seus santos, os evangélicos entendem tratar-se do povo de Deus que viveu nos tempos do 4º animal, agora quando no capítulo 8 fala do Chifre Pequeno investindo contra o exército do céu, ele entende ser algo local limitado ao povo judeu. Está claro que este entendimento só é possível quando relacionamos o Chifre Pequeno com um dos 4 chifres. Por outro lado, se entendermos de forma diferente, vamos encontrar uma perfeita relação entre as ações do chifre Pequeno de Daniel 7 e Daniel 8:

 

Daniel 7

Daniel 8

Proferira palavras contra o Altíssimo (v.25)

Engrandeceu-se até o Príncipe do exército (v.11)

Destruirá os santos do Altíssimo (v.25)

Engrandeceu-se até o exército do céu...deitou por terra e pisou (v.10)

Os santos lhe serão entregues nas suas mãos (v.25)

O exército lhe foi entregue (v.12)

Cuidará em mudar os tempos e a lei (v.25)

Lançou a verdade por terra e prosperou (v.12)

Boca que falava com vanglória ou arrogância (v.8)

Pelo seu entendimento fará prosperar o engano e no seu coração se engrandecerá (v.25)

O tribunal (celestial) se assentará em juízo e lhe tirará o seu domínio (v.26)

Sem esforço de mãos humanas será quebrado (v.25)

 

Como pudemos ver, basta demonstrar a improbabilidade do Chifre Pequeno de Daniel 8 se originar de um dos quatro chifres do bode, que a maioria das objeções caem facilmente por terra.

 

c) Um Chifre Pequeno surgindo do nada?

 

Se Daniel 8 fala de um Chifre Pequeno surgindo de um dos 4 ventos do céu, temos um chifre surgindo do nada, e chifres não surgem do nada, chifres sempre tem origem em algum tipo de animal.

 

Sim, um chifre surgindo do nada, por que não? Se a estrutura gramatical dos escritos de Daniel sugerem isto, por que questionar? Só porque nunca vimos nada parecido antes. Símbolos proféticos não necessitam obrigatoriamente seguir uma lógica humana. Alguém pode explicar um leão com 2 asas que depois se levanta como um homem? Ou um leopardo com 4 asas e 4 cabeças? Ou ainda um monstro de 10 chifres com unhas de bronze e dentes de ferro? Algum bode tem um chifre notável entre os olhos? Se todos estes símbolos são muito estranhos, porque então estranharíamos uma visão de um chifre surgindo e crescendo proveniente de um dos 4 cantos da terra?

 

d) O Chifre Pequeno de Daniel 7 e 8 se levantam em tempos diferentes

 

O “chifre pequeno” de Daniel 7 não se levantou senão até que a 4ª besta se dividisse em 10 reinos, o que ocorreu em 476 d.C.. O chifre pequeno de Daniel 8 havia de surgir “no fim do seu reinado” (v. 23). “O seu reinado” se refere às quatro divisões do Império Alexandrino. Portanto, o chifre pequeno de Daniel 8 havia de levantar-se seis séculos antes que existisse o chifre pequeno de Daniel 7!

 

Antes de analisar a questão do tempo diferente para o surgimento do Chifre Pequeno de Daniel 7 e 8, quero chamar a atenção para a inconsistência entre os fatos históricos e a interpretação acima:

 

O chifre pequeno de Daniel 8 havia de surgir “no fim do seu reinado” (v. 23). “O seu reinado” se refere às quatro divisões do Império Alexandrino.

 

Antíoco IV ou Antíoco Epifânio foi o oitavo rei da dinastia selêucida (175 a 164 a.C.) proveniente de uma das 4 divisões do império macedônico (General Seleuco). A história mostra que seu reinado não surgiu no fim das quatro divisões do império alexandrino, nem tão pouco no fim dos reis selêucidas, pois ele está aproximadamente no meio da dinastia mencionada (A dinastia dos selêucidas governou de 312/311 a.C. até 65 a.C.).

 

Portanto, aqui está mais um forte argumento que inviabiliza a identificação de Antíoco Epifânio como o Chifre Pequeno de Daniel 8.

 

Analisemos agora o argumento de oposição (d):

 

Na verdade existe um lapso de tempo entre o surgimento do Chifre Pequeno de Daniel 7 e do Chifre Pequeno de Daniel 8, devido ao fato destes símbolos indicarem fases diferentes do poder que eles representam. Em Daniel 7 o Chifre Pequeno simboliza Roma Cristã que se desenvolveu a partir de Roma Pagã, e em Daniel 8 representa o poder romano em suas duas fases: Política (Roma Pagã) e Religiosa (Roma Cristã), conforme é demonstrado no quadro abaixo:

 

Capítulo 7

Capítulo 8

Interpretação

Período

Animal terrível e espantoso

Chifre Pequeno que cresce muito  politicamente

Império Romano

(Roma Pagã)

Do 2º século a.C. até o 6º século d.C.

10 chifres sobre o 4º animal

Chifre Pequeno

se engrandece

espiritualmente

e ataca o

Santuário

Nações da Europa

Do 6º século d.C. até o fim

Chifre Pequeno

Papado

(Roma Cristã)

 

Desta forma verificamos que o Chifre Pequeno de Daniel 7 teve seu início por volta do 6º século d.C. e o Chifre Pequeno de Daniel 8 por volta do 2º século a.C.. Portanto, o lapso de tempo entre os dois Chifres Pequenos existe, mas não da forma como está apresentado no argumento de oposição.

 

e) O Chifre Pequeno de Daniel 8 é um rei pessoal e não um reino ou império

 

Em Daniel 8:23 o “chifre pequeno” é identificado como “um rei de feroz catadura”. A palavra hebraica para “rei” melek, e significa “um rei, rei real” (Strong). A palavra melek não se traduz nunca como “reino, ou poder mundial, ou império”. A mesma palavra é usada no versículo 21 para identificar o chifre grande do bode, o qual todos os eruditos bíblicos concordam que se refere ao rei Alexandre, o grande.

 

Perceba ainda que no versículo 23, a palavra “reinado” vem da palavra hebraica malkuth, que significa “um domínio, império, reino, reinado, reino, real” (Strong). Portanto, Gabriel fez uma óbvia distinção ao usar estas duas palavras. Eis aqui o que Gabriel disse: “De um malkuth (domínio, reinado, império, reino) se levantará um melek (governante, rei)”.

 

Todas as referências a este rei se fazem de forma pessoal através das palavras “seu” e “ele” (aparecem 10 vezes nos versículos 24 e 25). Isto denota que se refere a um indivíduo, não a um poder mundial.

 

No livro de Daniel existem situações específicas onde a palavra “rei” e “reino” são usadas de forma intercambiável. Veja por exemplo em Dan. 2:37 onde Daniel explica que o rei Nabucodonossor é a cabeça de ouro da estátua. Todos nós sabemos que a cabeça de ouro não se refere somente a um rei em específico, mas a todo império (reino) babilônico. Na seqüência o verso 39 reforça este entendimento ao ser mencionado “outro reino” para a parte seguinte da estátua. É evidente que cada parte da estátua simboliza um reino mundial, demonstrando assim que a palavra “rei” no verso 37 foi utilizada para identificar todo o “reino”.

 

Em Dan. 8:23 o anjo Gabriel não diz: “De um reino (malkuth) se levantará um rei (melek)”. Suas palavras foram outras:

 

Mas no fim do seu reinado (malkuth), quando os transgressores encherem a medida do seu pecado, levantar-se-á um rei (melek), feroz de semblante e entendido em enigmas.

 

Existe diferença entre dizer que “de um reino se levantará um rei”, e dizer que “no fim dos reinos se levantará um rei”. A primeira versão inventada (pois não está na Bíblia) dá a entender que o texto bíblico não permite o intercâmbio entre as palavras “reino” e “rei”; já o texto bíblico sem adulteração dá margem para este intercâmbio.

 

 

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