Comentário da lição da Escola Sabatina
do 3º Trimestre de 2006
O EVANGELHO, E O JUÍZO
RESPOSTAS A CRÍTICAS E OBJEÇÕES - 1
A
partir desta lição estaremos comentando também algumas críticas e objeções que
temos recebido ao longo deste trimestre, tanto dos evangélicos em geral como de
alguns adventistas.
Para facilitar a leitura estaremos usando cores
diferentes no texto:
Críticas
e Objeções
Resposta
do Arquivo X da IASD
1- Não existe paralelismo entre o Chifre pequeno de Daniel 7 e
Daniel 8
a) Existe uma mudança de foco entre os capítulos 7 e 8
Daniel
7 |
Daniel
8 |
Potências Mundiais representadas por
animais imundos |
Potências Mundiais representadas por
animais limpos (utilizados no serviço do santuário) |
Escrito em Aramaico |
Escrito em Hebraico |
Escrito para os Gentios (não-judeus) |
Escrito para os judeus |
Ênfase na história mundial |
Ênfase no Ritual do Santuário |
Esta aparente mudança de foco não compromete em nada o princípio
do paralelismo progressivo. Este princípio pode ser visto claramente entre os
capítulos 2 e 7 com a característica de que a visão seguinte não somente repete
o que já foi mostrado, só que com símbolos diferentes, mas também amplia a
visão anterior apresentando novos detalhes. O mesmo princípio para ênfase e
ampliação pode ser percebido entre os capítulos 7 e 8.
Capítulo 2 |
Capítulo 7 |
Capítulo 8 |
Interpretação |
Peito e Braços de Prata |
Urso que se levanta de um lado |
Carneiro com
dois chifres |
Império Medo-Persa |
Quadris e Coxas de Bronze |
Leopardo com 4 cabeças e 4 asas |
Bode com um
chifre que dá lugar para outros 4 chifres |
Império Greco-Macedônico |
Pernas de Ferro |
Animal terrível e espantoso |
Chifre
Pequeno que cresce muito
politicamente |
Império Romano (Roma Pagã) |
Pés em partes de Ferro e Barro |
10 chifres sobre o 4º animal |
Chifre
Pequeno se
engrandece espiritualmente e ataca o Santuário |
Nações da Europa |
|
Chifre Pequeno |
Papado (Roma Cristã) |
No capítulo Roma é simplesmente simbolizada como as pernas de
ferro da estátua, já no capítulo 7 é representada pelo animal terrível e
espantoso, só que com o acréscimo do detalhe do Chifre Pequeno que surge deste
animal. As maléficas ações espirituais deste Chifre Pequeno são destacadas no
capítulo 7 e ampliadas no capítulo 8, sugerindo o interesse de Deus em chamar a
atenção de seu povo para este poder.
Não vejo dificuldade alguma na mudança dos símbolos entre Daniel
7 (animais imundos) e Daniel 8 (animais limpos), bem como na mudança da escrita
aramaica (desde Dan. 2:4 até Dan. 7:28) para a hebraica (Dan. 8:1 até o fim do
livro), pois apenas reforçam o entendimento de que o foco do capítulo 8 é o
Santuário.
Agora, concluir que devido a estas mudanças, Daniel 7 foi
escrito para os gentios e Daniel 8 para os judeus, pode ser um equívoco. A
mesma mudança de idioma acontece em Esdras (escrito em aramaico do cap. 4:8 até
6:18) e seria um erro afirmar que a parte em aramaico foi escrita para os
gentios e a hebraica para os judeus. É interessante notar que tanto Daniel como
Esdras começam a escrever em aramaico após mencionar algo que foi dito ou escrito
na língua aramaica. É provável que o retorno deles para a escrita hebraica
acontece motivado pelo assunto que passam a descrever (no caso de Esdras a
narração da Páscoa, e no caso de Daniel uma visão cujo foco é o santuário).
Como foi demonstrado acima, a mudança de foco entre os capítulos
7 e 8 em nada comprometem o paralelismo marcante entre eles.
b) Diferenças entre os Chifres Pequenos de Daniel 7 e 8
Diferença
nº. |
Daniel
7 |
Daniel
8 |
1 |
Está associado ao 4º império |
Está associado ao 3º império |
2 |
Surge da cabeça |
Surge de um chifre |
3 |
Surge em meio aos 10 chifres |
Não nasce da cabeça do bode |
4 |
Nasce de um animal |
Nasce de um chifre |
5 |
Um poder novo que surge do corpo do
antigo império |
Sai de um dos 4 chifres do bode |
6 |
Seu campo de influência é a totalidade
do 4º império |
Pertence somente a uma das 4 divisões
do poder do bode |
7 |
Arranca 3 chifres quando surge |
Não arranca nenhum chifre quando surge |
8 |
7:8 em aramaico: “outro chifre, um
pequeno” |
8:9 em hebraico: “um chifre de pequeno
tamanho” |
9 |
Mais robusto do que seus companheiros |
Um chifre de pequeno tamanho |
10 |
Se levanta contra o Altíssimo e Seus
santos que viveram durante o 4º império |
Se levanta contra o povo judeu (sumo
sacerdote, sacrifícios e o santuário) |
Mais da metade das diferenças acima (nºs
Tal entendimento está equivocado, pois no hebraico o verso 9 não
diz: “de um dos quatros chifres” (tradução interpretativa e tendenciosa), mas
diz: “de um deles”. Imediatamente
antecedendo a frase onde lemos a palavra “deles” está a expressão “quatro
ventos do céu”, sendo muito mais natural relacionar a palavra “deles” com o seu
antecedente imediato (de um dos quatro ventos do céu). Para entendermos como
“de um dos quatro chifres” precisamos forçar a relação da palavra “deles” com
os “quatro chifres”.
Mas o argumento acima não é o único que impossibilita o vínculo
da palavra “deles” com os “quatro chifres”. A explicação proveniente da
gramática hebraica é ainda muito mais convincente:
Na gramática hebraica a palavra “chifre” (qeren) do verso 8 é
uma palavra feminina, e a palavra “ventos” (ruach) pode ser tanto masculina
como feminina. Como o pronome pessoal “eles” (de + eles = deles) deve concordar
com o substantivo que o antecede, este pronome deveria ser feminino caso ele
realmente se referisse aos chifres. Porém, o que acontece é que na língua
hebraica o “deles” do verso 9 é uma palavra masculina, sendo completamente
inviável que ela esteja relacionada com a palavra chifres. O correto é a
palavra masculina “deles” do verso 9 estar relacionada com a palavra “vento”
que pode ser tanto masculina como feminina.
Desta forma com apenas 2 pauladas liquidamos 6 supostas
diferenças.
A diferença nº. 7 é
insignificante tendo em vista que as figuras simbólicas mudaram. No capítulo 7
tínhamos uma besta com 10 chifres, portanto fazia sentido mencionar que o
Chifre Pequeno abateria 3 durante seu processo de crescimento. Já no capítulo
A diferença nº. 8
chega nem a ser diferença uma vez que a expressões são sinônimas.
A diferença nº. 9 não
existe, pois da mesma forma que o capítulo 7 fala de um Chifre Pequeno que era
mais robusto de que os seus companheiros, o capítulo 8 fala de um Chifre
Pequeno que cresceu muito tanto geograficamente como espiritualmente (perceba
como a palavra “engrandeceu-se” ou “tornou-se grande” é repetida nos versos 10
e 11).
Finalmente a diferença nº.
10 se baseia na mesma premissa utilizada nos itens de nº.
Daniel
7 |
Daniel
8 |
Proferira palavras contra o Altíssimo
(v.25) |
Engrandeceu-se até o Príncipe do
exército (v.11) |
Destruirá os santos do Altíssimo
(v.25) |
Engrandeceu-se até o exército do
céu...deitou por terra e pisou (v.10) |
Os santos lhe serão entregues nas suas
mãos (v.25) |
O exército lhe foi entregue (v.12) |
Cuidará em mudar os tempos e a lei
(v.25) |
Lançou a verdade por terra e prosperou
(v.12) |
Boca que falava com vanglória ou
arrogância (v.8) |
Pelo seu entendimento fará prosperar o
engano e no seu coração se engrandecerá (v.25) |
O tribunal (celestial) se assentará em
juízo e lhe tirará o seu domínio (v.26) |
Sem esforço de mãos humanas será
quebrado (v.25) |
Como pudemos ver, basta demonstrar a improbabilidade do Chifre
Pequeno de Daniel 8 se originar de um dos quatro chifres do bode, que a maioria
das objeções caem facilmente por terra.
c) Um Chifre Pequeno surgindo do nada?
Se Daniel 8 fala de um Chifre Pequeno surgindo de um dos 4
ventos do céu, temos um chifre surgindo do nada, e chifres não surgem do nada,
chifres sempre tem origem em algum tipo de animal.
Sim, um chifre surgindo do nada, por que não? Se a estrutura
gramatical dos escritos de Daniel sugerem isto, por que questionar? Só porque
nunca vimos nada parecido antes. Símbolos proféticos não necessitam
obrigatoriamente seguir uma lógica humana. Alguém pode explicar um leão com 2
asas que depois se levanta como um homem? Ou um leopardo com 4 asas e 4
cabeças? Ou ainda um monstro de 10 chifres com unhas de bronze e dentes de
ferro? Algum bode tem um chifre notável entre os olhos? Se todos estes símbolos
são muito estranhos, porque então estranharíamos uma visão de um chifre
surgindo e crescendo proveniente de um dos 4 cantos da terra?
d) O Chifre Pequeno de Daniel 7 e 8 se levantam em tempos
diferentes
O “chifre pequeno” de
Daniel 7 não se levantou senão até que a 4ª besta se dividisse em 10 reinos, o
que ocorreu em 476 d.C.. O chifre pequeno de Daniel 8 havia de surgir “no fim
do seu reinado” (v. 23). “O seu reinado” se refere às quatro divisões do
Império Alexandrino. Portanto, o chifre pequeno de Daniel 8 havia de
levantar-se seis séculos antes que existisse o chifre pequeno de Daniel 7!
Antes de analisar a questão do tempo diferente para o surgimento
do Chifre Pequeno de Daniel 7 e 8, quero chamar a atenção para a inconsistência
entre os fatos históricos e a interpretação acima:
O
chifre pequeno de Daniel 8 havia de surgir “no fim do seu reinado” (v. 23). “O
seu reinado” se refere às quatro divisões do Império Alexandrino.
Antíoco IV ou Antíoco Epifânio foi o oitavo rei da dinastia
selêucida (
Portanto, aqui está mais um forte argumento que inviabiliza a
identificação de Antíoco Epifânio como o Chifre Pequeno de Daniel 8.
Analisemos agora o argumento de oposição (d):
Na verdade existe um lapso de tempo entre o surgimento do Chifre
Pequeno de Daniel 7 e do Chifre Pequeno de Daniel 8, devido ao fato destes
símbolos indicarem fases diferentes do poder que eles representam. Em Daniel 7
o Chifre Pequeno simboliza Roma Cristã que se desenvolveu a partir de Roma
Pagã, e em Daniel 8 representa o poder romano em suas duas fases: Política
(Roma Pagã) e Religiosa (Roma Cristã), conforme é demonstrado no quadro abaixo:
Capítulo 7 |
Capítulo 8 |
Interpretação |
Período |
Animal terrível e espantoso |
Chifre
Pequeno que cresce muito politicamente |
Império Romano (Roma Pagã) |
Do 2º século a.C. até o 6º século d.C. |
10 chifres sobre o 4º animal |
Chifre
Pequeno se
engrandece espiritualmente e ataca o Santuário |
Nações da Europa |
Do 6º século d.C. até o fim |
Chifre Pequeno |
Papado (Roma Cristã) |
Desta forma verificamos que o Chifre Pequeno de Daniel 7 teve
seu início por volta do 6º século d.C. e o Chifre Pequeno de Daniel 8 por volta
do 2º século a.C.. Portanto, o lapso de tempo entre os dois Chifres Pequenos existe,
mas não da forma como está apresentado no argumento de oposição.
e) O Chifre Pequeno de Daniel 8 é um rei pessoal e não um reino
ou império
Em Daniel 8:23 o “chifre
pequeno” é identificado como “um rei de feroz catadura”. A palavra hebraica
para “rei” melek, e significa “um rei, rei real” (Strong). A palavra melek
não se traduz nunca como “reino, ou
poder mundial, ou império”. A mesma
palavra é usada no versículo 21 para identificar o chifre grande do bode, o
qual todos os eruditos bíblicos concordam que se refere ao rei Alexandre, o
grande.
Perceba ainda que no
versículo
Todas as referências a
este rei se fazem de forma pessoal através das palavras “seu” e “ele” (aparecem
10 vezes nos versículos 24 e 25). Isto denota que se refere a um indivíduo, não
a um poder mundial.
No livro de Daniel existem situações específicas onde a palavra
“rei” e “reino” são usadas de forma intercambiável. Veja por exemplo em Dan.
2:37 onde Daniel explica que o rei Nabucodonossor é a cabeça de ouro da
estátua. Todos nós sabemos que a cabeça de ouro não se refere somente a um rei
em específico, mas a todo império (reino) babilônico. Na seqüência o verso 39
reforça este entendimento ao ser mencionado “outro reino” para a parte seguinte
da estátua. É evidente que cada parte da estátua simboliza um reino mundial,
demonstrando assim que a palavra “rei” no verso 37 foi utilizada para
identificar todo o “reino”.
Em Dan. 8:23 o anjo Gabriel não diz: “De um reino (malkuth) se levantará um rei (melek)”.
Suas palavras foram outras:
“Mas no fim do
seu reinado (malkuth), quando os
transgressores encherem a medida do seu pecado, levantar-se-á um rei (melek), feroz de semblante e entendido em enigmas.”
Existe diferença entre dizer que “de um reino se levantará um
rei”, e dizer que “no fim dos reinos se levantará um rei”. A primeira versão
inventada (pois não está na Bíblia) dá a entender que o texto bíblico não
permite o intercâmbio entre as palavras “reino” e “rei”; já o texto bíblico sem
adulteração dá margem para este intercâmbio.