Comentário da lição da Escola Sabatina do 3º Trimestre de 2006

 

O EVANGELHO, 1844 E O JUÍZO

 

 

LIÇÃO 11 – O Santuário e o Chifre Pequeno

 

 

Esta lição tem como objetivo definir pelas evidências bíblicas e históricas como se consumaram as ações do Chifre Pequeno de Daniel capítulo 8 contra o Príncipe do exército do céu e o Seu Santuário, mais especificamente contra o Seu ministério “contínuo” ou “perpétuo”.

 

 

Como destacamos no comentário anterior, a linguagem e símbolos usados em Daniel 8 evidenciam que o foco central deste capítulo está nas questões religiosas em torno do santuário. Muito embora este capítulo traga detalhes das ações do Chifre Pequeno, símbolo do poder romano, tanto em sua fase pagã quanto cristã, a ênfase está de forma soberana no aspecto espiritual.

 

Os detalhes descritos nos versos 10 a 12 de Daniel 8 podem aplicar-se de forma literal às ações do poder romano pagão contra os judeus e o templo, bem como contra a própria igreja cristã primitiva (o próprio Senhor Jesus em Seu discurso escatológico fez esta aplicação literal em Mateus 24:15 e Lucas 21:20). Porém, tal transgressão assoladora e abominável contra o “contínuo” onde o santuário e o exército do céu seriam pisados, pode ser vista de forma muito mais abrangente e enfática se considerarmos os aspectos simbólicos deste ataque nas ações do poder romano religioso ou cristão.

 

 

O Cristianismo Apostatado

 

O apóstolo Paulo em II Tessalonicenses 2:3 e 4 também fez menção a este terrível período de apostasia e engano que sobreviria sobre a igreja cristã:

 

Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.

 

O discípulo amado João menciona esta apostasia como resultado de um poder crescente denominado em suas epístolas como o anticristo:

 

Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhecemos que é a última hora.” I João 2:18.

 

Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o Filho.” I João 2:22.

 

E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” I João 4:3.

 

Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo.” II João 7.

 

Mais tarde, em Apocalipse, o apóstolo João descreverá este mesmo poder apóstata de várias outras maneiras:

 

a)              Como o próprio trono de Satanás (Apoc. 3:13).

b)              Como o dragão que persegue a mulher e faz guerra contra os seus descendentes (Apoc. 12).

c)               Como a arrogante Besta que sobe do mar cheio de blasfêmias (Apoc. 13).

d)              Como uma grande prostituta cheia de nomes de blasfêmia tendo na mão um cálice cheio de embriagante vinho apóstata, e embriagada com o sangue dos santos (Apoc. 17).

e)              Como a grande Babilônia, mãe das prostituições e das abominações da terra, cujo seio serve como morada dos demônios e esconderijo dos anjos caídos, mas que tem sua queda como decretada pelo céu (Apoc. 17:5 e 18).

 

Compare as características do Chifre Pequeno de Daniel 8 com as descrições de Apocalipse e perceba como se referem ao mesmo poder apóstata:

 

Daniel 8

Apocalipse

Faz guerra, vence, pisa e destrói o exército do céu

·        Persegue a mulher e faz guerra contra os seus descendentes (Apoc. 12)

·        Embriagada com o sangue dos santos (Apoc. 17)

Afronta o Príncipe do exército do céu

·        É o próprio trono de Satanás (Apoc. 3:13)

·        Arrogância e Blasfêmia (Apoc. 13)

Tira do Príncipe o “contínuo”, lança o Seu Santuário e a verdade por terra, fazendo prosperar o engano

·        Na mão um cálice cheio de embriagante vinho apóstata (Apoc. 17)

·        Mãe das prostituições e das abominações da terra (Apoc. 17:5 e 18)

 

 

Quem é o Príncipe?

 

Os textos abaixo apontam para Jesus, o Filho de Deus:

 

E disse ele: Não, mas venho agora como Príncipe do exército do SENHOR. Então Josué se prostrou com o seu rosto em terra e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu servo?” Josué 5:14.

 

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o principado está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai d Eternidade, Príncipe da Paz.” Isaías 9:6.

 

Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos.” Daniel 9:25.

 

Mas eu te declararei o que está registrado na escritura da verdade; e ninguém há que me anime contra aqueles, senão Miguel, vosso Príncipe.” Daniel 10:21.

 

E Naquele tempo se levantará Miguel, o grande Príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro.” Daniel 12:1.

 

Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.” Atos 5:31.

 

 

O que é o contínuo?

 

A maioria das traduções bíblicas apresenta a expressão “sacrifício contínuo”, porém no texto hebraico existe apenas uma única palavra, TAMID, cuja tradução pode ser “contínuo”, “perpétuo”, “constante”, “incessante”, “ininterrupto” ou “diário” (ver I Reis 4:22, Ezeq. 39:14, Sal. 38:17, Sal. 71:14). Esta palavra ocorre mais de 100 vezes no Antigo Testamento e é usada com destaque em referência direta ao serviço diário do santuário terrestre que deveria ser mantido pelos sacerdotes em contínuo funcionamento:

 

a)  Contínuo holocausto (Sacrifício contínuo) - Êxodo 29:38, 42; Números 28:3, 24.

b)  Holocaustos continuamente oferecidos pela manhã e pela tarde - I Crônicas 16:40.

c)   Fogo do altar continuamente acesso - Levíticos 6:13.

d)  Contínua oferta de cereais - Números 4:16

e)  Lâmpadas mantidas continuamente acessas - Êxodo 27:20; Levíticos 24:2.

f)    O pão contínuo da proposição - Êxodo 25:30; Números 4:7; II Crônicas 2:4.

g)  O peitoral sacerdotal para memória contínua diante do Senhor - Êxodo 28:29.

h)  Incenso perpétuo - Êxodo 30:8.

i)     Contínuo serviço do santuário - I Crônicas 23:31.

 

Como pode ser verificado, é um erro restringir a tradução da palavra hebraica TAMID ao significado limitado de “sacrifício contínuo”. Seu significado é muito mais abrangente, pois é aplicada a toda espécie de serviço mantido em contínuo funcionamento no pátio e no lugar santo (1º compartimento). Podemos dizer que TAMID (contínuo) refere-se ao ministério diário dos sacerdotes com todas suas rotinas que mantinham o santuário em permanente e ininterrupto funcionamento.

 

Quando o santuário terrestre foi construído o Senhor orientou a Moisés dizendo:

 

E me farão um santuário, para que eu habite no meio deles. Conforme tudo o que eu te mostrei para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis.” Êxodo 25:8 e 9.

 

O santuário terrestre foi construído como um modelo do verdadeiro santuário que está no céu, de forma que através de figuras e símbolos, representava uma realidade celestial:

 

O ponto principal do que estamos dizendo é que temos um Sumo Sacerdote tal, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, que o Senhor fundou, e não o homem.” Hebreus 8:1 e 2.

 

Mas Cristo, tendo vindo como Sumo Sacerdote dos bens já realizados, por meio de um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação.” Hebreus 9:1.

 

“Depois disto olhei, e abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do testemunho.” Apocalipse 15:5.

 

O contínuo serviço do santuário celestial era uma figura ou sombra que apontava para a realidade do contínuo ministério intercessório de Cristo no santuário celestial em nosso favor:

 

Eles servem num santuário que é figura e sombra das coisas celestiais. É por isso que Moisés divinamente foi avisado, quando estava a construir o tabernáculo: Vê que faças tudo conforme o modelo que te foi mostrado no monte.” Hebreus 8:5.

 

Mas este com juramento por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor, e não se arrependerá; Tu és sacerdote eternamente, Segundo a ordem de Melquisedeque, de tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador. E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer, mas este, porque permanece eternamente [continuamente], tem um sacerdócio perpétuo [contínuo]. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre [continuamente] para interceder por eles.” Hebreus 7:21-25.

 

Os serviços diários e contínuos realizados pelos sacerdotes no santuário terrestre era uma representação didática do maravilhoso plano em execução no céu para a salvação da humanidade mediante a graça encontrada única e exclusivamente nos méritos de Cristo. Foi este sagrado e vital ministério realizado por Cristo em benefício de nossa eterna salvação que este poder apóstata tirou e lançou por terra.

 

 

Como este poder alcançou este objetivo?

 

Ano*

Heresias

113

O Papa Alexandre I ordena o uso da água benta (costume pagão)

140

Institui-se o jejum da quaresma (salvação pelas obras)

160

Orações pelos mortos (imortalidade da alma)

170

Teófilo de Antioquia usa pela primeira vez o termo “Trindade” (deturpação do conhecimento do Deus Eterno e de Seu Filho unigênito Jesus Cristo)

220

Tertuliano e Hipólito lançam as bases filosóficas para o estabelecimento do dogma da Santíssima Trindade (deturpação do conhecimento do Deus Eterno e de Seu Filho unigênito Jesus Cristo)

257

Consagração de ornamentos religiosos e vestes sacerdotais (origem pagã)

260

Começam as primeiras comunidades monásticas (salvação pelas obras)

320

Uso de velas e círios (costume pagão)

381

A igreja cristã oficializada pelo estado recebe o nome de “Católica” (pretensão)

321

O dia do Senhor é mudado do sábado bíblico para o domingo (mudança na lei de Deus)

416

Começa-se a praticar o batismo de crianças recém-nascidas (tradição acima das verdades bíblicas)

431

O Concílio de Éfeso decreta a adoração de Maria como a Mãe de Deus (violação do exclusivo ministério intercessório de Cristo conforme Atos 4:12 e II Tim. 2:5)

593

É instituída pelo Papa Gregório Magno a doutrina do purgatório (salvação pelas obras e imortalidade da alma)

600

O latim é instituído como o idioma oficial de oração e culto sagrado (impossibilitar os mais humildes do acesso à vida religiosa)

610

O título de Papa é instituído pela primeira vez pelo Bispo de Roma Bonifácio III (hierarquização da estrutura religiosa)

709

É instituído o costume de beijar o anel e os pés do Papa (idolatria)

788

Veneração (para não dizer adoração) de imagens, relíquias e cruz (idolatria)

860

O Papa Nicolau, o grande, declara ter poder para mudar os tempos e ab-rogar as leis, bem como dispor de todas as coisas, até os preceitos de Cristo (blasfêmia e arrogância)

995

A Canonização dos santos é instituída pelo Papa João XV (imortalidade da alma e violação do exclusivo ministério intercessório de Cristo conforme Atos 4:12 e II Tim.2:5)

998

A missa é instituída como sacrifício (desvirtuamento do plano da salvação e da verdadeira adoração)

1073

O Papa Bonifácio VII Impõe o celibato aos sacerdotes e monges (salvação pelas obras)

1080

O Papa Gregório VII declara que a igreja romana nunca errou, nem errará jamais (infalibilidade da igreja dirigida por homens)

1184

Estabelecem-se as bases para a Inquisição (intolerância religiosa)

1190

Institui-se a venda de Indulgências, que é o pagamento à igreja com a finalidade de obter o perdão dos pecados (salvação pelas obras)

1200

A hóstia substitui a ceia (tradição acima da bíblia)

1215

No IV Concílio de Latrão o Papa Inocêncio III em sua bula “Eu te absolvo”, introduziu o sacramento da confissão ou confessionário (violação do exclusivo ministério intercessório de Cristo conforme Atos 4:12 e II Tim.2:5)

1250

Segundo a tradição, São Domingo de Gusmão recebe a revelação da devoção do Rosário direto da santíssima virgem (salvação pelas obras)

1300

O Papa Bonifácio VIII declara que a submissão à autoridade papal é indispensável para a salvação (arrogância humana em querer ser como Deus)

1322

O Papa João XXII institui o escapulário como uma forma de indulgência (salvação pelas obras)

1546

Os livros apócrifos (não inspirados por Deus) são introduzidos na Bíblia (tradição acima da Bíblia)

1550

O Concílio de Trento estabelece o dogma da Transubstanciação (mistificação do sacrifício de Cristo)

1854

O Papa Pio IX em sua bula “Ineffabilis Deo” estabelece o dogma da imaculada conceição de Maria (desvirtuamento da natureza humana de Cristo)

1869

O Concílio Vaticano I declara como anátema todo aquele que não reconhece no Papa um legítimo sucessor de Pedro divinamente instituído (tradição acima da verdade bíblica)

1870

O Papa Pio IX declara a infalibilidade papal (idolatria e arrogância humana em querer ser como Deus)

1894

O Papa Leão XIII declara numa encíclica que o Papa ocupa nesta terra o lugar do Deus Onipotente (idolatria e arrogância humana em querer ser como Deus)

1950

O Papa Pio XII declara o dogma da assunção da Virgem Maria (idolatria)

1965

O Concílio Vaticano II proclama Maria como a mãe universal da igreja (idolatria)

 

* As datas são aproximadas

 

Foi desta maneira que este arrogante, blasfemo e perseguidor poder representado pelo chifre pequeno procurou tirar das consciências dos homens o exclusivo ministério intercessório de Jesus no santuário celestial.

 

 

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