Comentário da lição da Escola Sabatina
do 3º Trimestre de 2006
O EVANGELHO, E O JUÍZO
LIÇÃO 7 – AS SETENTA SEMANAS
O estudo das Setenta Semanas de Daniel 9 foi dividido em 2 partes.
Nesta semana os esforços se concentraram em estabelecer uma data para o início
desta profecia explicativa. O estudo dos marcos cronológicos de Dan. 9:24-27
foi deixado para a próxima semana (lição 8). Porém, tanto nesta semana como na
próxima, não podemos perder de vista que estamos estudando uma profecia que foi
dada com o objetivo principal de fazer Daniel “entender” a purificação do
santuário após 2.300 tardes e manhãs. Portanto, é fundamental que a estudemos
procurando analisar como esta “explicação” poderia se encaixar com o enigma de
Dan. 8:14.
A Explicação de Gabriel
“Setenta semanas
estão determinadas...” (verso 24)
A
palavra “Setenta semanas” está no hebraico como “Setenta sete” que pode
ser entendido como “Setenta vezes sete” (ver Mateus 18:22). O resultado de
“Setenta sete” (70 x 7) que é 490 salta do texto hebraico de forma marcante.
A
palavra “determinadas” é uma tradução do verbo hebraico cuja raiz é CHATHAK
(ou Chatchak como traz a lição). Apesar desta palavra aparecer na Bíblia
somente neste verso, seu significado no léxico hebraico Strong (palavra nº. 2852) tem o sentido de cortar, dividir,
separar, amputar. Porém, figurativamente, os tradutores bíblicos optaram por
traduzi-la por determinada ou decretada.
à Para mais informações sobre a palavra “determinadas”
acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_04.htm
Gabriel
então disse:
“Setenta sete estão amputados”
“490 estão separados”
“Setenta semanas estão cortadas”
A
pergunta que fazemos a seguir é: Cortada
(separada/amputada) de onde?
Se
nós nos lembrarmos que o anjo Gabriel está aqui procurando fazer Daniel
“entender” a visão (mar’eh) do capítulo 8, não teremos outra opção senão
vincularmos o período de tempo menor de Daniel 9 (70 semanas) com o período de
tempo maior de Daniel 8 (2.300 tardes e manhãs). Uma simples questão de lógica!
O verso 24 apresenta um resumo dos acontecimentos destas 70 semanas
numa interessante estrutura literária onde encontramos os seguintes
paralelismos:
Setenta
semanas estão determinadas:
|
Sobre o teu povo para: |
Sobre a tua santa cidade para: |
|
A |
Cessar a transgressão |
Trazer a justiça eterna |
B |
A’ |
Findar os pecados |
Selar a visão e a profecia |
B’ |
A’’ |
Expiar a iniqüidade |
Ungir o Santo dos Santos |
B’’ |
Existe
um paralelo sinônimo entre as expressões da linha A e também entre as
expressões da linha B. Encontramos também um paralelismo complementar entre a
expressão da coluna A e seu correspondente na coluna B. Este quadro num todo
apresenta tanto o sacrifício substitutivo de Jesus, como seu ministério
intercessório no santuário celestial, sintetizando perfeitamente o foco
principal das 70 semanas, o próprio Cristo.
Quando começariam as 70 semanas?
“Sabe e entende:
desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém...” (verso
25)
Antes
de qualquer coisa, notemos que aqui o anjo Gabriel profere uma mensagem que
afastou o grande temor de Daniel quanto ao suposto não cumprimento da profecia
de Jeremias sobre a restauração de Jerusalém após 70 anos de cativeiro. A
mensagem do anjo foi direto ao ponto confirmando que Jerusalém seria restaurada
conforme a palavra que o Senhor havia predito. Daniel não precisava se
preocupar com mais 2.300 tardes e manhãs de cativeiro, pois este não era o
caso. A explicação da visão (ma’reh) de Dan. 8:14 começa pela “ordem para
restaurar e para edificar Jerusalém” para deixar bem claro a Daniel que a
palavra do Senhor não falharia, e que portanto ele deveria entender as 2.300
tardes e manhãs de forma que não anulasse aquilo que o Senhor já havia
estabelecido.
O
texto é claro: As 70 semanas começam na saída da ordem que decretou a
reconstrução de Jerusalém. O nosso maior problema será identificar este decreto
na história para então nos certificarmos de sua data.
No
livro de Esdras encontramos os
seguintes decretos:
1º
Decreto (Capítulo 1): Decreto de
Ciro, o grande, em 538/537 a.C. que possibilitou o retorno para Jerusalém de
vários judeus com a finalidade de reconstruir o santuário, e trazer de volta os
utensílios sagrados que haviam sido retirados pelo rei Nabucodonossor.
2º
Decreto (Capítulo 6): Decreto de
Dario I Histaspes (Não confundir com Dario, o medo) em 520/519 a.C. que foi uma
confirmação do 1º decreto.
3º
Decreto (Capítulo 7): Decreto de
Artaxerxes I Longímano em
Se
você tivesse que escolher um dos três decretos acima como aquele a que se
referiu o anjo sobre a restauração e edificação de Jerusalém, qual escolheria?
(a)
O primeiro (Ciro)
que apenas fala do retorno de alguns judeus para reconstruírem o Templo e da
restituição dos utensílios sagrados?
(b)
O segundo (Dario
I) que é apenas uma confirmação do primeiro decreto?
(c)
Ou o terceiro
(Artaxerxes I) que confere a Jerusalém um status e autonomia até então perdidas
há muitos anos?
Acho
que não existem dúvidas que o terceiro decreto feito por Artaxerxes em
à Para mais informações sobre os “decretos” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_05.htm
Caso
ainda não esteja convencido, existem as fortes evidências de Esdras capítulo 4. Antes de entrarmos
neste capítulo, cabe aqui a observação de que o livro de Esdras não está
escrito numa rigorosa ordem cronológica. Pelo contrário! Neste livro
encontraremos fatos com datas mais antigas a outros relatados em capítulos
posteriores (e vice-versa). E às vezes dentro de um mesmo capítulo, para se ter
os fatos em ordem cronológica, existe a necessidade de reagrupá-los. Este é o
caso de Esdras 4.
Esdras
4:1-5 é uma narração de acontecimentos que ocorreram entre o decreto de Ciro
(1º decreto) e o decreto de Dario I (2º decreto), e referem-se à reconstrução
do Templo do Senhor. Para o capítulo se tornar cronologicamente coerente,
precisamos deslocar o verso 24 para imediatamente após o verso 4 de Esdras:
“Então cessou a
obra da casa de Deus, que estava em Jerusalém, até o segundo ano do reinado de
Dario, rei da Pérsia.”
Os
versos 6 até 23 falam da reconstrução das muralhas de Jerusalém nos tempos de
Xerxes (Assuero) e Artaxerxes que são posteriores aos decretos de Ciro e Dario.
De
acordo com o teor da carta que Reum e Sinsai escreveram a Artaxerxes, notamos
claramente que os judeus já estavam empreendendo a reconstrução da cidade de
Jerusalém:
“Saiba o rei que
os judeus que subiram de ti vieram a nós a Jerusalém, e estão edificando aquela
rebelde e malvada cidade, e vão restaurando os seus muros, e reparando os seus
fundamentos.” Esdras 4:12.
Portanto,
encontramos aqui mais uma forte evidência que relaciona a “restauração e
edificação de Jerusalém” com o rei Artaxerxes e seu decreto, e não com os
decretos de Ciro ou de Dario.
Uma
vez tendo como certo que nenhum outro decreto poderia se encaixar com as
palavras do anjo em Dan.9:24, resta-nos certificarmos da data em que ele foi
promulgado.
Existem
fortes evidências históricas para se datar este decreto no ano
Alguns
adventistas, com vistas em 1844, podem considerar fundamental que se defina o
ano exato do decreto de Artaxerxes como
à Para entender as “certezas e incertezas em torno de
(e depois vá
avançando para as próximas páginas até chegar na última)
Agora,
se mesmo após tudo o que estudamos acima, ainda não estiver convencido quanto
ao decreto correto e sua data aproximada, acredito que ao analisarmos o próximo
argumento você irá definitivamente se convencer.
O Ungido, o Príncipe
“...até o
Ungido, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas.” (verso 25)
O
verso 25 fala que desde o decreto para restaurar e edificar Jerusalém até o
Ungido, passariam um período de 69 semanas:
7 semanas + 62 semanas = 69 semanas
49 dias + 434 dias = 483 dias
à Para entender o porque da separação entre “7 e 62 semanas”
acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_06.htm
Ungido
é a tradução da palavra hebraica transliterada como Messias, e traduzida para o Grego como Cristo. Acredito que não devam existir dúvidas de que o Ungido (o
Messias; o Cristo) também chamado de o Príncipe, refira-se a Jesus Cristo, o
Filho de Deus. Esta identificação é tão óbvia e intuitiva que nem precisaríamos
mencionar que o próprio livro de Daniel a estabelece e confirma (ver Dan. 8:10,
10:13, 21 e comparar com Dan. 12:1).
Os
judeus que tinham sua religião centralizada na esperança messiânica, agora
recebem uma profecia que indica precisamente o tempo em que este tão esperado
Messias surgiria.
Um
período de sete semanas mais sessenta e duas semanas totaliza um período de
sessenta e nove semanas, ou seja, 483 dias. Se somarmos 483 dias literais ao
ano de 458/457 a.C. chegaremos ao ano de 456/455 a.C., ainda cerca de meio
século antes do ministério de Jesus Cristo. Esta evidente que dias literais
tornam esta profecia sem sentido. Portanto, façamos um teste aplicando o
princípio bíblico de um dia profético
igual a um ano literal (Num. 14:34 e Ezeq. 4:6 – o princípio dia/ano será
estudado em detalhes na lição nº. 9).
Fazendo
as contas (458/457 a.C. + 483 anos) chegamos ao ano de 26/27 d.C. (lembrar que
no computo dos anos não existe ano 0; depois de
à Para entender como se processa os “cálculos com a.C. e
d.C.” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_07.htm
Agora
sim a profecia começa fazer sentido, pois foi por volta do ano 26/27 d.C. que
Jesus foi batizado e iniciou seu ministério público (Ver Atos 10:37-38; Lucas
3:21-22).
à Para entender o vínculo entre “o ungido” e o “batismo de
Jesus” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_08.htm
Voltando
aos decretos, se você ainda não se convenceu que deva ser o 3º decreto em
458/457 a.C. faça as contas:
1º decreto em 538/537 a.C. + 483 anos = 55/54 a.C.
2º decreto em 520/519 a.C. + 483 anos = 37/36 a.C.
3º decreto em 458/457 a.C. + 483 anos = 26/27 d.C.
Perceba
que somente o 3º decreto está a 483 anos da data aproximada