Comentário da lição da Escola Sabatina do 3º Trimestre de 2006

 

O EVANGELHO, 1844 E O JUÍZO

 

 

LIÇÃO 7 – AS SETENTA SEMANAS

 

 

O estudo das Setenta Semanas de Daniel 9 foi dividido em 2 partes. Nesta semana os esforços se concentraram em estabelecer uma data para o início desta profecia explicativa. O estudo dos marcos cronológicos de Dan. 9:24-27 foi deixado para a próxima semana (lição 8). Porém, tanto nesta semana como na próxima, não podemos perder de vista que estamos estudando uma profecia que foi dada com o objetivo principal de fazer Daniel “entender” a purificação do santuário após 2.300 tardes e manhãs. Portanto, é fundamental que a estudemos procurando analisar como esta “explicação” poderia se encaixar com o enigma de Dan. 8:14.

 

 

A Explicação de Gabriel

 

Setenta semanas estão determinadas...” (verso 24)

 

A palavra “Setenta semanas” está no hebraico como “Setenta sete” que pode ser entendido como “Setenta vezes sete” (ver Mateus 18:22). O resultado de “Setenta sete” (70 x 7) que é 490 salta do texto hebraico de forma marcante.

 

A palavra “determinadas” é uma tradução do verbo hebraico cuja raiz é CHATHAK (ou Chatchak como traz a lição). Apesar desta palavra aparecer na Bíblia somente neste verso, seu significado no léxico hebraico Strong (palavra nº. 2852) tem o sentido de cortar, dividir, separar, amputar. Porém, figurativamente, os tradutores bíblicos optaram por traduzi-la por determinada ou decretada.

 

à Para mais informações sobre a palavra “determinadas” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_04.htm

 

Gabriel então disse:

“Setenta sete estão amputados”

“490 estão separados”

“Setenta semanas estão cortadas”

 

A pergunta que fazemos a seguir é: Cortada (separada/amputada) de onde?

 

Se nós nos lembrarmos que o anjo Gabriel está aqui procurando fazer Daniel “entender” a visão (mar’eh) do capítulo 8, não teremos outra opção senão vincularmos o período de tempo menor de Daniel 9 (70 semanas) com o período de tempo maior de Daniel 8 (2.300 tardes e manhãs). Uma simples questão de lógica!

 

O verso 24 apresenta um resumo dos acontecimentos destas 70 semanas numa interessante estrutura literária onde encontramos os seguintes paralelismos:

 

Setenta semanas estão determinadas:

 

 

Sobre o teu povo para:

Sobre a tua santa cidade para:

 

A

Cessar a transgressão

Trazer a justiça eterna

B

A’

Findar os pecados

Selar a visão e a profecia

B’

A’’

Expiar a iniqüidade

Ungir o Santo dos Santos

B’’

 

Existe um paralelo sinônimo entre as expressões da linha A e também entre as expressões da linha B. Encontramos também um paralelismo complementar entre a expressão da coluna A e seu correspondente na coluna B. Este quadro num todo apresenta tanto o sacrifício substitutivo de Jesus, como seu ministério intercessório no santuário celestial, sintetizando perfeitamente o foco principal das 70 semanas, o próprio Cristo.

 

 

Quando começariam as 70 semanas?

 

Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém...” (verso 25)

 

Antes de qualquer coisa, notemos que aqui o anjo Gabriel profere uma mensagem que afastou o grande temor de Daniel quanto ao suposto não cumprimento da profecia de Jeremias sobre a restauração de Jerusalém após 70 anos de cativeiro. A mensagem do anjo foi direto ao ponto confirmando que Jerusalém seria restaurada conforme a palavra que o Senhor havia predito. Daniel não precisava se preocupar com mais 2.300 tardes e manhãs de cativeiro, pois este não era o caso. A explicação da visão (ma’reh) de Dan. 8:14 começa pela “ordem para restaurar e para edificar Jerusalém” para deixar bem claro a Daniel que a palavra do Senhor não falharia, e que portanto ele deveria entender as 2.300 tardes e manhãs de forma que não anulasse aquilo que o Senhor já havia estabelecido.

 

O texto é claro: As 70 semanas começam na saída da ordem que decretou a reconstrução de Jerusalém. O nosso maior problema será identificar este decreto na história para então nos certificarmos de sua data.

 

No livro de Esdras encontramos os seguintes decretos:

 

1º Decreto (Capítulo 1): Decreto de Ciro, o grande, em 538/537 a.C. que possibilitou o retorno para Jerusalém de vários judeus com a finalidade de reconstruir o santuário, e trazer de volta os utensílios sagrados que haviam sido retirados pelo rei Nabucodonossor.

 

2º Decreto (Capítulo 6): Decreto de Dario I Histaspes (Não confundir com Dario, o medo) em 520/519 a.C. que foi uma confirmação do 1º decreto.

 

3º Decreto (Capítulo 7): Decreto de Artaxerxes I Longímano em 457 a.C., onde foi dada a autorização para que Jerusalém fosse re-estabelecida de forma legal e oficial. Isto está bem evidente nos versos 25 e 26 do capítulo 7 de Esdras onde encontramos a permissão real para a indicação de magistrados e juízes, bem como o restabelecimento das leis judaicas como base do governo civil local. Os magistrados e Juízes poderiam tratar com autoridade plena todos os casos políticos e religiosos que se encontrassem tanto sob a lei judaica, quanto à lei persa, podendo até mesmo aplicar a pena capital. De todos os decretos, este parece ser o de maior peso em termos de dar novamente a Jerusalém o status de uma nação com leis e autoridades competentes para aplicá-las (embora tudo ainda sob o domínio e fiscalização do império Medo-Persa).

 

Se você tivesse que escolher um dos três decretos acima como aquele a que se referiu o anjo sobre a restauração e edificação de Jerusalém, qual escolheria?

 

(a)          O primeiro (Ciro) que apenas fala do retorno de alguns judeus para reconstruírem o Templo e da restituição dos utensílios sagrados?

(b)          O segundo (Dario I) que é apenas uma confirmação do primeiro decreto?

(c)           Ou o terceiro (Artaxerxes I) que confere a Jerusalém um status e autonomia até então perdidas há muitos anos?

 

Acho que não existem dúvidas que o terceiro decreto feito por Artaxerxes em 457 a.C. é o que mais se aproxima daquele a que se referiu o anjo Gabriel em sua explicação. Dos três, somente este decreto se encaixa mais adequadamente nas expressões “restaurar e edificar Jerusalém”.

 

à Para mais informações sobre os “decretos” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_05.htm

 

Caso ainda não esteja convencido, existem as fortes evidências de Esdras capítulo 4. Antes de entrarmos neste capítulo, cabe aqui a observação de que o livro de Esdras não está escrito numa rigorosa ordem cronológica. Pelo contrário! Neste livro encontraremos fatos com datas mais antigas a outros relatados em capítulos posteriores (e vice-versa). E às vezes dentro de um mesmo capítulo, para se ter os fatos em ordem cronológica, existe a necessidade de reagrupá-los. Este é o caso de Esdras 4.

 

Esdras 4:1-5 é uma narração de acontecimentos que ocorreram entre o decreto de Ciro (1º decreto) e o decreto de Dario I (2º decreto), e referem-se à reconstrução do Templo do Senhor. Para o capítulo se tornar cronologicamente coerente, precisamos deslocar o verso 24 para imediatamente após o verso 4 de Esdras:

 

Então cessou a obra da casa de Deus, que estava em Jerusalém, até o segundo ano do reinado de Dario, rei da Pérsia.

 

Os versos 6 até 23 falam da reconstrução das muralhas de Jerusalém nos tempos de Xerxes (Assuero) e Artaxerxes que são posteriores aos decretos de Ciro e Dario.

 

De acordo com o teor da carta que Reum e Sinsai escreveram a Artaxerxes, notamos claramente que os judeus já estavam empreendendo a reconstrução da cidade de Jerusalém:

 

Saiba o rei que os judeus que subiram de ti vieram a nós a Jerusalém, e estão edificando aquela rebelde e malvada cidade, e vão restaurando os seus muros, e reparando os seus fundamentos.” Esdras 4:12.

 

Portanto, encontramos aqui mais uma forte evidência que relaciona a “restauração e edificação de Jerusalém” com o rei Artaxerxes e seu decreto, e não com os decretos de Ciro ou de Dario.

 

Uma vez tendo como certo que nenhum outro decreto poderia se encaixar com as palavras do anjo em Dan.9:24, resta-nos certificarmos da data em que ele foi promulgado.

 

Existem fortes evidências históricas para se datar este decreto no ano 457 a.C., porém alguns pesquisadores o colocam em 458 a.C.. Particularmente, no momento eu não estou tão preocupado em definir esta data com tanta precisão. A esta altura do estudo, me dou por satisfeito conseguir definir o decreto a que o anjo se referiu com sua datação aproximada (458-457 a.C.).

 

Alguns adventistas, com vistas em 1844, podem considerar fundamental que se defina o ano exato do decreto de Artaxerxes como 457 a.C., porém considero muito complicado dogmatizar em torno de datas históricas muito antigas, principalmente quando os calendários usados para o computo delas eram diferentes daquele que usamos atualmente. No momento, considero muito mais prudente falarmos em datas aproximadas.

 

à Para entender as “certezas e incertezas em torno de 457 a.C.” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/index.php?estudo=7#topo

(e depois vá avançando para as próximas páginas até chegar na última)

 

Agora, se mesmo após tudo o que estudamos acima, ainda não estiver convencido quanto ao decreto correto e sua data aproximada, acredito que ao analisarmos o próximo argumento você irá definitivamente se convencer.

 

 

O Ungido, o Príncipe

 

...até o Ungido, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas.” (verso 25)

 

O verso 25 fala que desde o decreto para restaurar e edificar Jerusalém até o Ungido, passariam um período de 69 semanas:

 

7 semanas + 62 semanas = 69 semanas

49 dias + 434 dias = 483 dias

 

à Para entender o porque da separação entre “7 e 62 semanas” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_06.htm

 

Ungido é a tradução da palavra hebraica transliterada como Messias, e traduzida para o Grego como Cristo. Acredito que não devam existir dúvidas de que o Ungido (o Messias; o Cristo) também chamado de o Príncipe, refira-se a Jesus Cristo, o Filho de Deus. Esta identificação é tão óbvia e intuitiva que nem precisaríamos mencionar que o próprio livro de Daniel a estabelece e confirma (ver Dan. 8:10, 10:13, 21 e comparar com Dan. 12:1).

 

Os judeus que tinham sua religião centralizada na esperança messiânica, agora recebem uma profecia que indica precisamente o tempo em que este tão esperado Messias surgiria.

 

Um período de sete semanas mais sessenta e duas semanas totaliza um período de sessenta e nove semanas, ou seja, 483 dias. Se somarmos 483 dias literais ao ano de 458/457 a.C. chegaremos ao ano de 456/455 a.C., ainda cerca de meio século antes do ministério de Jesus Cristo. Esta evidente que dias literais tornam esta profecia sem sentido. Portanto, façamos um teste aplicando o princípio bíblico de um dia profético igual a um ano literal (Num. 14:34 e Ezeq. 4:6 – o princípio dia/ano será estudado em detalhes na lição nº. 9).

 

Fazendo as contas (458/457 a.C. + 483 anos) chegamos ao ano de 26/27 d.C. (lembrar que no computo dos anos não existe ano 0; depois de 1 a.C. vem 1 d.C.).

 

à Para entender como se processa os “cálculos com a.C. e d.C.” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_07.htm

 

Agora sim a profecia começa fazer sentido, pois foi por volta do ano 26/27 d.C. que Jesus foi batizado e iniciou seu ministério público (Ver Atos 10:37-38; Lucas 3:21-22).

 

à Para entender o vínculo entre “o ungido” e o “batismo de Jesus” acesse: http://www.concertoeterno.com/v2/estudos/cronologia/apendice_01/apendice_01_08.htm

 

Voltando aos decretos, se você ainda não se convenceu que deva ser o 3º decreto em 458/457 a.C. faça as contas:

 

1º decreto em 538/537 a.C. + 483 anos = 55/54 a.C.

2º decreto em 520/519 a.C. + 483 anos = 37/36 a.C.

3º decreto em 458/457 a.C. + 483 anos = 26/27 d.C.

 

Perceba que somente o 3º decreto está a 483 anos da data aproximada em que Jesus foi batizado (ungido pelo Pai com o Espírito). É interessante notar que este computo levando a uma data significativa e coerente com a previsão profética, não somente estabelece a certeza sobre o decreto de Artaxerxes como também confirma a veracidade da equivalência: 1 dia profético = 1 ano literal.

 

 

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