Comentário da lição da Escola Sabatina
do 3º Trimestre de 2006
O EVANGELHO, E O JUÍZO
LIÇÃO 5 – DANIEL 8
De acordo com o cronograma de estudo da lição neste trimestre
verificamos que o objetivo da lição desta semana será mais no sentido de
reforçar o princípio do paralelismo progressivo entre as profecias de Daniel 2,
7 e 8 estabelecendo firmemente a seqüência dos eventos descritos nestas
profecias, de forma que importantes assuntos como à identificação do chifre
pequeno, seu ataque contra o santuário e a sua posterior purificação será
analisado de forma mais detalhada respectivamente nas lições nº. 10, 11 e 12.
Antes
de qualquer coisa, seria interessante posicionarmos cronologicamente a 3ª visão
de Daniel, relatada no capítulo 8 (a 1ª está no cap.2 e a 2ª está no cap.7). De
acordo com o verso 1 de Daniel 8 sabemos que esta visão se deu no terceiro ano
do rei co-regente Belsazar, ou seja, cerca de dois anos após a visão do
capítulo 7. Temos então que a cronologia dos capítulos
Ano a.C. |
605 |
602 |
594 |
569 |
553 |
551 |
539 |
538 |
Capítulo |
1 |
2 |
3 |
4 |
7 |
8 |
5 |
6 |
Evento |
Cativeiro |
1ª Visão de Daniel |
Fornalha Ardente |
Doença de Nabuco-donosor |
2ª Visão de Daniel |
3ª Visão de
Daniel |
Banquete e Queda de
Babilônia |
Cova dos Leões |
Idade de Daniel |
17 |
20 |
28 |
53 |
69 |
71 |
83 |
84 |
Como
podemos ver a visão de Daniel relatada no capítulo 8 aconteceu quando o império
Babilônico tinha ainda cerca de 12 anos de existência. Nesta ocasião o rei
Nabonidus estava em Temã, enquanto seu filho co-regente Belsazar estava em
Babilônia conduzindo a economia da capital ao colapso.
Paralelismo Progressivo
O
Princípio do Paralelismo Progressivo é fundamental para a correta interpretação
das profecias de Daniel. Este princípio está clara e irrefutavelmente
evidenciado nas profecias relatadas nos capítulos 2, 7 e 8, de forma que
podemos, sem muito esforço (sem forçar uma interpretação), perceber como as
informações são ampliadas e detalhadas nas visões que se sucedem. Desprezar o
evidente e natural paralelismo destes capítulos significa cometer um gravíssimo
erro de interpretação, distorcendo completamente seu real significado, e
desvirtuando um outro princípio fundamental de interpretação das Escrituras
Sagradas: “a Bíblia explica-se a si mesma”.
O
quadro abaixo demonstra a lógica e perfeição desta estrutura paralela e
progressiva:
Capítulo 2 |
Capítulo 7 |
Capítulo 8 |
Interpretação |
Período |
Cabeça de Ouro |
Leão com asas de Águia |
|
Império Babilônico |
7º e 6º século a.C. |
Peito e Braços de Prata |
Urso que se levanta de um lado |
Carneiro com
dois chifres |
Império Medo-Persa |
Do 6º ao 4º século a.C. |
Quadris e Coxas de Bronze |
Leopardo com 4 cabeças e 4 asas |
Bode com um
chifre que dá lugar para outros 4 chifres |
Império Greco-Macedônico |
Do 4º ao 2º século a.C. |
Pernas de Ferro |
Animal terrível e espantoso |
Chifre
Pequeno que cresce muito politicamente |
Império Romano (Roma Pagã) |
Do 2º século a.C. ao 6º século d.C. |
Pés em partes de Ferro e Barro |
10 chifres sobre o 4º animal |
Chifre Pequeno se engrandece espiritualmente e ataca o Santuário |
Nações da Europa |
Do 6º século d.C. até o fim |
|
Chifre Pequeno |
Papado (Roma Cristã) |
||
|
Tribunal Celestial |
Santuário
Purificado |
Juízo Pré-advento |
|
Pedra destrói a Estátua |
4º animal (chifre pequeno) perde seu
domínio e é destruído |
|
2ª Vinda de Jesus |
|
Pedra transforma-se num grande monte que
enche a terra |
Os santos do Altíssimo recebem o Reino |
|
Eternidade dos salvos no Reino de Deus |
|
O
fato de o Império Babilônico estar em franca decadência e em fase de extinção,
explica o motivo da visão do capítulo 8 começar com o símbolo do Império
Medo-Persa. Babilônia foi simplesmente desconsiderada em razão de restar-lhe
apenas uns poucos anos mais de existência.
A
forma explícita e direta como os símbolos do carneiro (no verso 20 como os reis
da Média e da Pérsia) e do bode (no verso 21 como o rei da Grécia) são
identificados confirma de forma inquestionável a interpretação dos mesmos
reinos simbolizados de outras formas nas visões anteriores.
Qualquer tentativa de interpretação que
desconsidere este evidente paralelismo entre as profecias, soará como estranha
e forçada, para não dizer ridícula.
É
impossível não percebermos a relação que existe entre o urso que se levantou de
um dos lados com o carneiro com dois chifres onde o chifre que se levantou por
último se tornou o mais proeminente. A história nos conta que Ciro era neto de
Astíages, rei da Média. Este concedeu ao seu neto Ciro o governo da Pérsia que
até então era apenas uma província da Média. No ano de
É
igualmente notória a relação existente entre o Leopardo com quatro cabeças e o
Bode com um chifre notável que ao seu tempo é arrancado e substituído por
outros quatro. Assim como os detalhes dos dois chifres do Carneiro continha
informações adicionais que se encaixariam perfeitamente no reino por ele
simbolizado, assim também os detalhes do chifre entre os olhos do Bode sendo
arrancado no auge de sua força e substituído por outros quatro sem a mesma
força que o primeiro, encaixam-se minuciosamente com os detalhes da história do
reino helenístico. A história conta que o primeiro e grande rei do império
macedônico, Alexandre o Grande da Grécia, no auge de suas conquistas acabou
morrendo. Como não havia indicado sucessor, sua morte foi precedida por 22
anos de sangrentos conflitos que só vieram a termo no ano de
Antíoco Epifânio é o
Chifre Pequeno?
Até
aqui existe consenso entre a maior parte dos estudiosos da Bíblia. É a partir
do verso 9 que começam as divergências de interpretação entre os Adventista e
as demais denominações cristãs. De acordo com o princípio do paralelismo entre
os capítulos 2, 7 e 8, os Adventistas reconhecem abertamente o Chifre Pequeno
de Daniel 8 como sendo Roma em suas fases pagã e cristã apostatada, porém com
ênfase na segunda fase. As demais denominações cristãs pretendem identificar o
Chifre Pequeno com o insignificante Antíoco IV ou Antíoco Epifânio, que foi o
oitavo rei da dinastia selêucida (
Na
tentativa de forçar a interpretação do Chifre Pequeno como Antíoco Epifânio,
cometem um erro grave de gramática hebraica ao relacionar a expressão “de um
deles” do verso 9 com os quatro chifres (existem até algumas versões
bíblicas que perpetuaram este erro ao traduzirem tendenciosamente “de um deles”
como “de um dos quatro chifres”). Na gramática hebraica a palavra “chifre”
(qeren) do verso 8 é uma palavra feminina, e a palavra “ventos” (ruach) pode
ser tanto masculina como feminina. Como o pronome pessoal “eles” (de + eles =
deles) deve concordar com o substantivo que o antecede, este pronome deveria
ser feminino caso ele realmente se referisse aos chifres. Porém, o que acontece
é que na língua hebraica o “deles” do verso 9 é uma palavra masculina, sendo
completamente inviável que ela esteja relacionada com a palavra chifres. O
correto é a palavra masculina “deles” do verso 9 estar relacionada com a
palavra “vento” que pode ser tanto masculina como feminina.
A
lição de terça-feira (25/07) acertadamente explica:
“No verso 8,
depois de descrever o colapso da Grécia, fragmentando-se em vários reinos, o
chifre pequeno é descrito como vindo ‘de entre eles’; isto é, de um dos ‘quatro
ventos do céu’ (v.8), seu antecedente imediato.” (Pág. 58 da edição do
professor).
Infelizmente o responsável pelos Comentários Adicionais errou e
escandalosamente contradisse o autor da lição ao afirmar:
“Depois
de sua morte, o reino de Alexandre foi dividido entre quatro generais (v.22;
compare Dan.7:6: ‘quatro asas’). De um desses pequenos reinos subiu ‘um chifre
pequeno’ – pequeno a princípio, mas que cresceu em poder (Dan.8:9).” (Pág.
62 da edição do professor).
Primeiro ele menciona as quatro asas como o símbolo relacionado
com a divisão do império macedônico em quatro partes, sendo que as quatro
cabeças é um símbolo muito mais direto e lógico. Depois ele comete a terrível
gafe teológica ao dar a entender que de um dos quatro “pequenos reinos” procedentes
da divisão do império helenístico é que sobe o chifre pequeno. Este tipo de
interpretação é justamente o que acreditam e defendem a maior parte das
denominações cristãs que querem identificar o chifre pequeno como Antíoco
Epifânio. Nós adventistas combatemos este tipo de interpretação equivocada.
A
lição do 4º trimestre de 2004 foi muito mais precisa em sua explicação:
“A maioria dos
comentaristas entende que o chifre pequeno saiu de um dos quatro chifres, mas a
gramática hebraica dá a entender diferentemente, que o poder do ‘chifre
pequeno’ veio de um ‘dos ventos do céu’, não dos quatro chifres.
Porém, a
última parte do verso 8 diz: ‘Saíram quatro chifres notáveis, para os quatro
ventos do céu.’ Deste modo, a expressão ‘quatro ventos do céu’ é o antecedente
mais próximo de ‘um deles’ e não dos ‘quatro chifres’. O chifre pequeno, então,
sai de um dos quatro ventos (os pontos cardeais) em lugar de um dos quatro
chifres. Além disso, o chifre pequeno cresce em direção a três entidades
geográficas, ‘o sul’, ‘o oriente’ e ‘a Terra Gloriosa’. Esta segunda atividade
do chifre pequeno sugere que a primeira atividade, ‘a saída’ também pertence ao
plano geográfico, os quatro pontos cardeais. Finalmente, o verbo ‘sair’ (yatza)
no verso 9 é diferente do verbo ‘sair’ (‘alah) que é usado para saída dos
outros chifres (vs. 3 e 8). (Veja
ainda M.Proebstle, ‘A Text-oriented Analysis of Daniel 8:9-
Pela
história, sabemos que o poder que veio depois dos quatro impérios gregos foi
Roma, que surgiu de um ponto a oeste desses impérios.” (Pág. 105 da edição do professor – 23/11/2004).
C.
Mervyn Maxwell em seu livro “Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel” (pág.
158 da 1ª edição) apresenta 5 razões contra a interpretação do chifre pequeno
de Daniel 8 como sendo o rei selêucida Antíoco IV, conhecido como Antíoco
Epifânio:
1-
Chifres
representam reinos, e ele foi apenas um rei individual (parte de um dos quatro
chifres);
2-
Dan. 8:23 coloca
o surgimento do chifre pequeno no fim do reinado dos reis simbolizados pelos
quatro chifres que surgiram no lugar daquele chifre notável. Antíoco IV (175-
3-
A história nega
que este rei tenha prosperado (vs. 12) ou que tenha se tornado muito forte (vs.
9). Ele foi humilhado pelos Romanos no sul (Egito) e morreu sob circunstâncias
obscuras e tristes no oriente ou leste (Mesopotâmia). Mesmo seu fugaz sucesso
na terra gloriosa (Jerusalém) se desfez enquanto ele ainda vivia;
4-
Todas tentativas
de encaixar as 2.300 tardes e manhãs no período
5-
Jesus afirmou
clara e explicitamente que a abominação desoladora que havia se referido o
profeta Daniel ainda se encontrava no futuro em relação ao momento em que
estava proferindo seu discurso (Mateus 24:15). Antíoco Epifânio morreu cerca de
dois séculos antes destas palavras de Jesus, e portanto é ilógico pensar nele
como que cumprido a profecia do chifre pequeno de Daniel.
Por
outro lado, a simples aplicação do princípio do paralelismo que aponta o poder
que sucedeu ao Bode do capítulo 8, como o mesmo poder que sucedeu o Leopardo do
capítulo 7, e o mesmo poder que sucedeu a parte de bronze do capítulo 2, ou
seja, Roma, é ainda a principal evidência de que o Chifre Pequeno jamais
poderia ser um rei tão geograficamente restrito e de tão pouco destaque como
foi Antíoco Epifânio.
Um
outro argumento muito simples que desbanca completamente Antíoco Epifânio é o
fato de por duas vezes (versos 17 e 19) o anjo Gabriel dizer claramente que a
visão se cumprirá no “fim do tempo” ou no “tempo do fim”. Não tem fundamento
alguém querer entender que a purificação do santuário de Daniel 8:14 refere-se
ao momento que as profanações de Antíoco Epifânio no templo judeu terminaram,
se a data em que isto ocorreu é antes mesmo do nascimento de Cristo que, por
sua vez, colocou o tempo do fim no futuro (Mateus 24:3-14).
Como
já mencionamos no início deste comentário, a lição nº. 10 será dedicada
exclusivamente a este assunto (Roma e Antíoco), portanto, caso ainda tenha
ficado alguma dúvida, ao chegarmos lá poderemos nos aprofundar ainda mais neste
assunto.
O Chifre Pequeno
As
peripécias do Carneiro e do Bode, identificados pelo próprio anjo que recebe a
ordem para explicar a visão para Daniel como o rei (reino) da Média e da Pérsia
e o rei (reino) da Grécia, preparam o cenário para a parte mais impressionante
da visão: o surgimento de um Chifre muito pequeno que cresceu muito para o sul,
para o oriente e para a terra formosa.
Estas
indicações políticas confirmam sua identificação como sendo o Império Romano,
pois destacam sua expansão rumo a África (sul), Grécia, Ásia Menor e Síria
(oriente), e Palestina (terra formosa). Entretanto, estas características
políticas são apresentadas de forma bem sucinta e limitada, em comparação com
as demais características de caráter espiritual. Fica evidente que o objetivo
do capítulo 8 é apresentar o engrandecimento do Chifre Pequeno em termos
espirituais, destacando a natureza espiritual ofensiva de suas atividades.
Veja
abaixo uma comparação entre o crescimento político (horizontal) do chifre
pequeno com seu engrandecimento espiritual (vertical):
Atividade Horizontal |
Atividade Vertical |
Crescimento Político |
Engrandecimento Espiritual |
Roma Pagã |
Roma Cristã |
1-
Sul 2-
Oriente 3-
Terra Formosa |
1-
Contra o
exército dos céus 2-
Contra o
Príncipe dos príncipes 3-
Contra o
Santuário 4-
Contra a
verdade |
Daniel 8:9 |
Daniel 8:10-12 e 23-25 |
Como
já vimos no capítulo 7, Roma Pagã teve sua continuação na Roma Cristã, onde o
Bispo de Roma acaba substituindo em poder e influência o imperador Romano. O
título pagão Pontifex Maximus (Sumo Sacerdote) utilizado pelos
imperadores romanos passou a ser um título cristão que identificava o Bispo de
Roma, de forma que o poder, autoridade e influência antes exercidas pelos
imperadores romanos foram lenta, gradativa e sutilmente transferidos para o
chefe da igreja cristã em Roma.
Purificação do Santuário
O
tema do santuário é central em Daniel capítulo 8. Uma das provas é que até os
animais escolhidos por Deus para simbolizar o império Medo-Persa e Macedônico
são animais pertencentes ao ritual do santuário: um carneiro e um bode.
De
acordo com já comprovado princípio do paralelismo entre as visões de Daniel,
verificamos que a Purificação do Santuário do capítulo 8 está indiscutivelmente
em direta relação com Tribunal Celestial do capítulo
Seqüência |
Acontecimento |
Daniel
7 |
Acontecimento |
Daniel
8 |
1ª seqüência |
Chifre Pequeno se manifesta |
Verso 8 |
Chifre Pequeno se manifesta |
Versos 9-12 |
Tribunal Celestial |
Versos 9-10 |
Purificação do Santuário |
Versos 13-14 |
|
2ª seqüência |
Chifre Pequeno se manifesta |
Versos 24-25 |
Chifre Pequeno se manifesta |
Versos 23-25 |
Tribunal Celestial |
Verso 26 |
Purificação do Santuário |
Versos 25-26 |
E mais,
tanto após o Tribunal Celestial do capítulo 7 como após a Purificação do
Santuário do capítulo 8, temos na seqüência a destruição definitiva do Chifre
Pequeno (comparar Daniel 7:26 com 8:25).
Como
vimos, está inegavelmente claro a relação que existe entre o Tribunal celestial
e a Purificação do Santuário, bem como a seqüência em que ocorrem, ou seja,
após a manifestação do Chifre Pequeno e antes da 2ª vinda de Jesus, quando ele
será definitivamente destruído.
A interpretação correta da profecia que
se segue (Daniel 9) dependerá substancialmente do entendimento deste
paralelismo. Sem esta compreensão não conseguiremos ver a vital relação entre o
capítulo 8 e 9, fazendo com que a profecia das 70 semanas surja como um
elemento completamente desconexo nesta seqüência de profecias.